São Paulo, quarta-feira, 20 de setembro de 1995 |
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Profecias de 'Rock Horror' se concretizam
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
O filme é cult absoluto entre cinéfilos e o público underground, tanto por suas qualidades quanto pelos defeitos. Baseado em uma obscura peça londrina, foi recebido friamente na estréia e se transformou aos poucos em objeto de adoração. Retirado rapidamente dos circuitos de exibição, permaneceu em cartaz apenas numa sessão da meia-noite em Nova York. Aí começaram a aparecer fãs vestidos a caráter, imitando os personagens, o que ajudou a fazer a fama do filme quase tanto quanto o próprio filme. "Rocky Horror" gira em torno do doutor Frank N. Furter (Tim Curry), cientista maluco e travesti migrado do planeta Transexual, da galáxia de Transilvânia. Ele recebe a visita, em seu castelo, do provinciano e caretão casal Brad (Barry Bostwick) e Janet (Susan Sarandon, em seus primórdios, mas já hilária). Eles chegam justamente quando Furter cria um monstro de músculos abundantes e cabelos louros para satisfazer seus furores sexuais. É Rocky Horror (Peter Hinwood). Enquanto Furter seduz o casal, tirando a virgindade de Janet e, em certo sentido, a de Brad também, seu séquito de discípulos se revolta. O corcunda Riff Raff (Richard O'Brien) e sua irmã Magenta (Patricia Quinn), apaixonados pelo mestre, ficam com ciúmes de Rocky e passam a persegui-lo. Toda a trama é pretexto para horrendos (e debochadíssimos) números musicais impregnados de uma estética que parodia (querendo copiar) o astro David Bowie. Chegam mais perto de grupos que surgiam à época, como Queen (Freddie Mercury e Frank N. Furter são, definitivamente, a mesma pessoa) e Abba. Num nonsense que é a marca do filme, surge do nada o roqueiro Eddie (o também roqueiro Meat Loaf), que será assassinado por Frank N. Furter após cantar um rock ortodoxo. Em pleno 1975, precedendo a discoteca e o punk, mas já os absorvendo, "Rocky Horror" justifica sua longevidade. Profetiza o que aconteceria daí em diante: a morte do rock, conseguida pelas mãos de um travesti pop criado aos moldes do Bowie de "Ziggy Stardust" ou "Aladdin Sane" e já antevendo Madonna, Prince, Michael Jackson. "Rocky Horror" vai além, pois. Profetiza os anos 80, com figuras kitsch, bregas, darks e yuppies despencando pela tela. A precariedade técnica e a cafonice das canções (propositais, provavelmente) encontram contraponto no elenco afinado, em que se destacam o corcunda mal-amado de O'Brien (também compositor das músicas) e a cara-de-bocó de Sarandon. Só destoa, vez por outra, a afetação de Curry. O fim do filme é triste, assim como foi a concretização de suas profecias. É muita coisa para um filme só. Tinha mesmo que virar cult. Vídeo: The Rocky Horror Picture Show Direção: Jim Sharman Produção: Inglaterra, 1975 Com: Tim Curry, Susan Sarandon, Barry Bostwick, Richard O'Brien, Patricia Quinn, Little Nell, Jonathan Adams, Peter Hinwood, Meat Loaf Lançamento: Abril Vídeo (tel. 011/837-4500) Texto Anterior: O pianista Marcelo Bratke toca só hoje no Cultura Artística Próximo Texto: 'Seis Graus' conta bem uma boa trama Índice |
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