São Paulo, quarta-feira, 20 de setembro de 1995
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'Favores' ao governo são comuns nos EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Não tem sido raro na história recente dos EUA o governo pedir a jornais ou jornalistas para agirem de uma certa forma por razões de segurança.
Durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, o comandante das forças aliadas, Dwight Eisenhower, costumava chamar os correspondentes de "funcionários públicos assimilados".
Quando um deles, Edward Kennedy, da agência "Associated Press" (AP), se recusou a cumprir o papel, caiu em desgraça.
Kennedy, chefe do escritório da "AP" em Paris, foi um dos 17 jornalistas convidados para a cerimônia de assinatura da rendição da Alemanha, em 6 de maio de 1945.
Por razões políticas, o governo dos EUA pediu aos correspondentes para segurarem a informação até 20h do dia 8 de maio, quando um comunicado oficial da rendição seria emitido em Londres, Moscou, Paris e Washington.
Kennedy furou o embargo depois de ter sabido que a notícia já estava sendo transmitida por emissoras de rádio alemãs.
Ele perdeu o emprego e foi o único dos 17 jornalistas presentes à rendição que não recebeu condecoração do Congresso, em 1948.
Em abril de 1961, o então presidente John Kennedy, que desfrutava de excelentes relações com jornalistas, convocou à Casa Branca os principais editores-chefes do país para lhes expor um plano de invasão de Cuba.
Os editores foram exortados a nada divulgarem sobre o projeto até que ele tivesse início, o que ocorreu dois dias depois, em 25 de abril.
Todos atenderam ao pedido de Kennedy. A invasão da baía dos Porcos foi um fiasco militar e político para os EUA.
Depois da Guerra do Vietnã (1964-1975) e do caso Watergate (1972-1974), pedidos do governo a jornalistas passaram a ser vistos com desconfiança.
Nos dois processos, diversos jornalistas se sentiram enganados por autoridades que os usavam apenas para o seu próprio benefício.
O mais recente caso importante de atendimento a um pedido do governo por grandes jornais ocorreu em 1976, quando um avião foi sequestrado por nacionalistas croatas que exigiam a publicação de um manifesto.
Os jornais "The New York Times", "The Washington Post", "The Los Angeles Times" e "The Chicago Tribune" atenderam aos terroristas.

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