São Paulo, quinta-feira, 21 de setembro de 1995
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Campanha de água

WAGNER COSTA RIBEIRO

Em 19 de abril último ocupávamos esta Folha para alertar sobre a necessidade de desencadear uma campanha de sensibilização da população que habita a Grande São Paulo, com o objetivo de otimizar o uso da água na região metropolitana. Esse nobre recurso natural vem sendo desperdiçado há muitos anos, tanto pelos consumidores quanto pelos órgãos responsáveis pela captação, tratamento e distribuição de água na Grande São Paulo.
Bastaram os termômetros aproximarem-se dos 30oC para que novamente o racionamento fosse adotado pela Sabesp como alternativa para conter o aumento do consumo. Fico preocupado, pois ainda estamos em setembro. O que será proposto quando chegarmos a dezembro?
Alternativas mais ousadas precisam ser experimentadas, alcançando os consumidores de água da Grande São Paulo. Para viabilizá-las é preciso ir além das práticas tradicionais como o racionamento. Aliás, essa medida já vem sendo empregada e não estamos resolvendo o sério e grave problema de abastecimento de água que nos afeta.
Já é hora de repensar e reorientar o consumo da água na Grande São Paulo para atingir a vida cotidiana dos habitantes. As medidas de caráter estritamente técnico adotadas têm sido extremamente onerosas devido às exigências de captação cada vez mais distante dos pontos de distribuição e às características próprias do sítio urbano de São Paulo, dificultando a adução e exigindo a adoção de complexos sistemas de bombeamento.
Evidentemente, não se deve deixar de ter como meta o suprimento da demanda, providenciando estudos técnicos cada vez mais eficientes para a captação e distribuição de água. Porém é urgente ir mais longe, abordando o grave problema da perda de água quando da distribuição, averiguando quanto é captado clandestinamente por terceiros, impedindo a continuidade dessa ação e criando uma campanha da água na Grande São Paulo, para otimizar o consumo.
A população de mais baixa renda, que vive nos bairros periféricos atingidos pela interrupção no abastecimento, é tolhida de água para cozinhar e se banhar, enquanto nos bairros centrais a população lava automóveis e calçadas diariamente. O livre consumo de uns gera a privação de outros de um recurso vital à reprodução humana.
Estamos diante de mais um problema de consciência ambiental, no qual a possibilidade de uso não deve ser a medida de relação com esse recurso, já que estará dificultando o acesso da água para contingentes populacionais significativos que habitam pontos mais distantes.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente, na figura de seu titular, Fábio Feldmann, tem liderado uma ação importante no episódio da poluição do ar na Grande São Paulo, resultando em uma arrojada campanha de diminuição de circulação de automóveis. A experiência acumulada com essa iniciativa pode ser repassada para a campanha da água, atraindo lideranças políticas, técnicos, publicitários, empresários do setor e organizações não-governamentais.
Como estamos em setembro, ainda é possível massificar esse tema antes de que as elevadas médias do período da primavera e verão paulista não deixem outra alternativa senão o racionamento de água para todos. O tempo é curto, mas os meios aí estão.

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