São Paulo, quinta-feira, 21 de setembro de 1995 |
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'Pedagogia do malandro' anima Fla
MÁRIO MAGALHÃES
O time enfrenta o Grêmio, a partir das 21h15, no estádio da Ressacada, em Florianópolis (SC), em jogo válido pelo Grupo A do Campeonato Brasileiro. Os dois clubes não têm mais chance de se classificar no primeiro turno da competição. A partida testará a virada que Washington promove no Flamengo desde a semana passada, quando substituiu Edinho, demitido. Washington trocou o posto de comentarista de rádio mais ouvido do Rio para, aos 59 anos, dirigir pela primeira vez na vida um time de futebol. Transformou-se em fenômeno por dois motivos: manteve como técnico o estilo coloquial do rádio e conseguiu, na estréia, vencer o clube argentino Vélez Sarsfield, em Buenos Aires, por 3 a 2. Dois dias antes do jogo, ele disse aos jogadores: "a partir de agora, ninguém escova dentes, se penteia ou faz a barba. Vamos assustar os caras na entrada em campo." No vestiário, ordenou aos atletas: "Quando o adversário estender a mão e desejar boa sorte, vocês não os cumprimentem e digam: "boa sorte é o..." Para explicar a ordenação tática que quer em campo, o novo técnico dispensa grandes elucubrações teóricas com os jogadores. Ele falou para os meias defensivos e zagueiros: "Vocês são a minha Swat. Nenhum adversário vai passar pela tropa de choque." Falando a "língua" dos jogadores, Washington vai conseguindo o que quer. É a "pedagogia do malandro". Nascido no Engenho Novo (subúrbio do Rio), ele simplifica: "Sou carioca, é o meu jeito." As frases de efeito e bem-humoradas foram os principais trunfos da ascensão de Washington no rádio, onde é mais conhecido pelo apelido "Apolinho". Foram 19 anos como repórter de futebol e 15 como comentarista. Ele assumiu a equipe na segunda-feira retrasada. Nos três dias seguintes, devido à ansiedade, perdeu 5 kg dos 110 kg que o médico considerava excessivos. "E na Argentina só havia salada, uma coisa horrível." Após o jogo, já de madrugada, juntou-se a ex-companheiros de rádio e foi a uma churrascaria para comer um bife de chouriço. Washington considera seu momento mais difícil até agora a apresentação aos jogadores. "Não sou técnico, nem tenho pretensão de ser", afirma. Em vez de se atrapalhar na hora de barrar um jogador, o treinador afirma: "Vou mandar uma carta à Fifa para mudar a regra e colocar 12 jogadores em campo." Sucinto, dispensou longas conversas com Sávio, cujo desempenho caiu ao jogar ao lado das estrelas Edmundo e Romário. "Sávio, no céu há milhões de estrelas", disse Washington. "Não fique olhando para as estrelas do Romário e do Edmundo. Olhe para a sua". Domingo, Sávio marcou dois gols e foi o melhor em campo. Washington Rodrigues não é uma unanimidade. Sua indicação foi recebida com ataques. "Ele deveria estudar antes", disse Sebastião Lazaroni, treinador da seleção brasileira na Copa de 90. O Sindicato dos Treinadores do Rio protestou. A lei determina que só pode ser técnico quem fez curso promovido pelas federações de futebol. Sem diploma, Washington assina a súmula para ficar no banco de reservas como dirigente. Por isso, no Brasil, não chega à beira do campo. Quem faz isso é o treinador de goleiros, Paulo César, que, no documento oficial, é o técnico da equipe. Texto Anterior: Larry Holmes volta com vitória nos EUA; Espanha derrota em amistoso a Argentina; Cruzeiro define vaga na Supercopa hoje; Entidade suspende Dynamo da Ucrânia; Justiça nega pedido de Maradona; Técnico da Itália tem carro roubado Próximo Texto: Grêmio joga sem 9 titulares Índice |
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