São Paulo, quinta-feira, 21 de setembro de 1995
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A Aids e o prelado

A grande questão que sempre foi a sexualidade humana assumiu, desde o surgimento da Aids, o triste caráter de um risco de vida.
Campanhas agressivas e em linguagem clara de prevenção da moléstia, sobretudo as voltadas para as classes mais baixas -hoje, pela desinformação, o maior grupo de risco-, são um imperativo.
Que a Igreja Católica deseje transformar o país num convento -e é bom lembrar que nem mesmo os conventos estão livres da Aids-, tudo bem. O que não se pode admitir é que pessoas da autoridade e da respeitabilidade do arcebispo do Rio, d. Eugênio Sales, venham a público condenar as campanhas. Se ele deseja que os católicos não usem preservativos e mantenham apenas relações monogâmicas dentro do matrimônio, é um direito dele recomendar esse comportamento a seus fiéis. Trata-se de uma forma bastante eficaz de prevenção à Aids.
Mas quando ele tenta desacreditar uma campanha do Ministério da Saúde -que provavelmente entende muito mais da epidemiologia da Aids do que o prelado-, ele está interferindo numa área que não é de sua alçada, num país em que, embora a maioria da população se declare católica, a plena liberdade religiosa está constitucionalmente assegurada.
De resto, causa uma certa estranheza o fato de uma igreja, em nome da preservação da vida, adotar posições que contribuem justamente para eliminar vidas.

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