São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 1995
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Dívida interna do governo já supera a dívida externa

GUSTAVO PATÚ; CARI RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A dívida interna da União em forma de títulos públicos superou a dívida pública externa pela primeira vez, desde a década de 70. De acordo com os números divulgados ontem pelo Banco Central, o governo deve internamente US$ 9,8 bilhões a mais do que os débitos que tem junto aos credores internacionais.
Os dados divulgados ontem pelo BC mostram que a dívida mobiliária interna saltou de R$ 82,233 bilhões, em julho, para R$ 92,3 bilhões (ou aproximadamente US$ 97,2 bilhões), em agosto. O principal motivo do crescimento foi justamente a compra de dólares para as reservas do governo.
A política de juros altos explica esta situação. Não foi por acaso que a dívida interna mobiliária (em títulos) ultrapassou em agosto o valor da dívida externa -a grande vilã dos anos 80.
A dívida externa do setor público, pelos dados mais atualizados do BC, registrou US$ 87,33 bilhões em dezembro do ano passado.
O governo vem adotando a estratégia de aumentar suas reservas em moeda estrangeira, atraindo dólares de investidores internacionais com a prática de juros altos.
O governo justifica a entrada de dólares para sustentar seu plano de estabilização.
Quando os dólares ingressam no país, são trocados por moeda nacional. Para evitar um aumento do volume de dinheiro em circulação na economia, o BC vende títulos no mercado -elevando a dívida interna.
Graças a essa política, o governo ostenta hoje reserva externa recorde: US$ 47,660 bilhões em agosto, segundo o Banco Central informou ontem. Desse total, US$ 45,776 bilhões estão disponíveis a curto prazo.
Em agosto, o BC comprou US$ 6,2 bilhões junto ao mercado financeiro.
Naquele mês, foi registrada entrada recorde de dólares no país -US$ 5,8 bilhões-, levando o governo a restringir o ingresso de capital estrangeiro, com o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Com a venda de R$ 7,512 bilhões em títulos públicos, o BC evitou que essa entrada de dólares gerasse um crescimento exagerado do volume de dinheiro na economia, que cresceu 4,4% -de R$ 15,034 bilhões, em julho, para R$ 15,692 bilhões.
Contribuiu para este crescimento o gasto do BC com a intervenção federal nos bancos Econômico, Mercantil e Comercial, que chegou a R$ 2,023 bilhões.
Neste total, estão incluídos empréstimos do BC e a cobertura de depósitos em poupança e contas correntes.
Empréstimos a outros bancos também geraram emissão de moeda em agosto.
Os R$ 594 milhões emitidos ficaram bem abaixo, porém, dos R$ 2,784 bilhões de julho, quando o Banco Econômico ainda estava operando.

Estados
A dívida em títulos dos Estados e municípios cresceu de R$ 32,752 bilhões, em julho, para R$ 34,726 bilhões. Nesse caso, o motivo principal do crescimento é a política de juros altos do Banco Central.
A exceção foi a dívida do município de São Paulo, que subiu de R$ 2,671 bilhões para R$ 3,507 bilhões, principalmente devido à emissão de títulos para pagamento de débitos por determinação judicial (como desapropriações).

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