São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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Herói de gibi incentiva preso a usar camisinha

História em quadrinhos ajuda no combate à Aids

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Desta vez o herói Vira-Lata é um caminhoneiro. Mas, como em aventuras anteriores, só transa de camisinha e não tolera quem injeta drogas na veia.
"Pé na Estrada" é o nome do gibi -estrelado pelo personagem- que os 6.200 presidiários da Casa de Detenção de São Paulo receberão na próxima quarta. O lançamento vai ter filme e show com Rita Cadilac.
Vira-Lata já é conhecido na Detenção desde março de 94, quando apareceu o primeiro gibi. O objetivo é "fazer a cabeça" dos presos para que usem camisinha e evitem drogas injetáveis.
"Por isso, a linguagem é descontraída, com termos e histórias familiares ao pessoal da cadeia", diz o médico Drauzio Varella, idealizador do gibi.
O personagem é uma criação do compositor Paulo Garfunkel, o Magrão, e do desenhista Libero Malavoglia.
No gibi, Vira-Lata cruza com drogados e prostitutas. Nos momentos mais ardentes, saca do bolso uma camisinha.
A publicação do gibi está sendo bancada pela Universidade Paulista e promovida pela rádio 89 FM, de São Paulo.
"A idéia é vender parte dos exemplares para o gibi ser auto-suficiente e poder ser distribuído em todo o sistema penitenciário", diz Varella.
Há sete anos trabalhando em prevenção da Aids na Detenção, ele afirma que os presos estão aprendendo a usar camisinha.
Manuel Schechtman, diretor-médico do sistema penitenciário, conseguiu que a Secretaria da Saúde passasse a distribuir preservativos com regularidade.
A cada 15 dias, cada preso recebe duas. "Como não há mercado negro, é sinal que estão usando mesmo", diz Varella.
Uma pesquisa feita em 90 revelou que 17,3% dos presos tinham o vírus da Aids. Entre os travestis, 78% estavam infectados. Em 93, outra pesquisa mostrou que o número de portadores tinha crescido só 2%.
Uma das razões da estabilização, segundo Varella, é a mudança da droga injetável para o crack, fumado. Na droga injetável, seringas contaminadas passam de um preso a outro.

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