São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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Preço da comida dispara entre a fazenda e o prato

BRUNO BLECHER
EDITOR DO AGROFOLHA

O exemplo mais gritante é o do suco de laranja. Pelo preço de um copo de 300 ml de suco no Almanara (R$ 2,30), que corresponde a três frutas, o consumidor compra 57 laranjas na Ceagesp (Companhia de Entrepostos de Armazéns Gerais do Estado de São Paulo).
"Fixamos o preço do suco em dezembro de 94, quando a laranja estava cara. De lá para cá, o preço da fruta caiu, mas resolvemos não mexer no cardápio", diz Douglas Couri, diretor do Almanara, rede de cozinha árabe.
Ele diz que outros pratos estão com margens bem razoáveis. "Alguns estão até sendo subsidiados, como o homus".
Apreciador da cozinha árabe, o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos, Ademerval Garcia, fica irritado toda vez que bebe um suco de laranja no Almanara da Oscar Freire.
"É absurdo pagar este preço em São Paulo, maior produtor mundial de laranja do mundo", diz.
Para Couri, "há muito oba-oba nessa história de que os restaurantes estão ganhando rios de dinheiro. Nossa margem é de 12%".
No tradicional Filé do Moraes (centro de São Paulo), o prato de 230 g de filé mignon (R$ 11,44) custa o equivalente a 1,4 kg de filé no açougue.
"Nosso bife é de carne do boi. Os açougues costumam vender carne de vaca. É um filé especial, de calibre 6", diz José Luis de Freitas, um dos sócios da casa.
"Tenho 19 anos de janela e nunca ouvir falar em filé calibre 6", rebate Sylvio Lazzarini Neto, diretor do Sindicato Nacional dos Pecuaristas de Gado de Corte.
Freitas diz que paga R$ 6,80 pelo quilo de filé mignon, mas considerando os 35% de quebra, o custo da peça sobe para R$ 9,18.
"É preciso considerar as despesas com salários, aluguel, água, impostos e material. Muita gente leva os talheres como souvenir".
Segundo ele, só os salários "comem" 18% do faturamento.
Petiscar um frango a passarinho, acompanhado de um chope, também virou um programa caro. No Bar do Alemão (zona oeste), o prato (900 g) sai por R$ 10,50 ou 8,4 kg de frango no supermercado.
Entre a granja e o restaurante, o preço do franguinho, que leva apenas alho e óleo, sobe 1.844%.
Os preços das cantinas também estão salgados, principalmente para quem gosta de ambientes finos.
No Gero, um filhote do inacessível Fasano, um prato de espaguete a pomodoro basílico (200 g) custa R$ 11,50.
Por este valor, é possível comprar seis pacotes (500 g cada) de massa Barilla, importada da Itália, no Pão de Açúcar.
A sobremesa pode ser bastante indigesta para quem não checar antes seu preço no cardápio.
No Galeto's, rede de "fast-food", um simples mamão papaia (meia fruta) custa R$ 2,40.
Enquanto isto, em Linhares (ES), o agricultor recebe apenas R$ 0,02 pelo mamão graúdo, informa o produtor Emir de Macedo Gomes Filho.
Segundo a diretoria do Galeto's, o lucro com a fruta é de apenas R$ 0,23. "O Galeto's compra o mamão a R$ 1,20. A metade custa R$ 0,60, mas com a quebra sobe para R$ 0,75. Despesas operacionais, salários e impostos respondem por mais R$ 1,42".

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