São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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Delírio financeiro

DEMIAN FIOCCA

Não é novidade que banqueiros, amigos oficiais bem informados e especuladores em geral acumulem fortunas à custa do Tesouro Nacional. Mas agora, francamente, o governo parece que quer entregar tudo de uma só vez.
Mesmo que se aceitasse o argumento muito duvidoso de que a economia ainda está sob risco de superaquecimento, nada justifica a preferência por essa taxa de juros demente. A restrição legal de vendas a prazo mostrou ser mais eficaz para conter o consumo e nada custa às contas públicas. A contenção do poder de compra por via tributária, em último caso, também contém a atividade e reduz em vez de explodir o déficit.
Nos últimos 12 meses, o IGP-M (que além dos preços ao consumidor inclui também os de atacado e da construção civil) variou 21,7%. O governo pagou de juros 57,8%.
Neste mês, a forte queda de todos os índices de preços, a deflação registrada pelo IGP-M e as projeções de que a inflação manter-se-á baixa fizeram com que o mercado sancionasse espontaneamente a queda dos juros. O BC, acredite quem puder, interveio para reelevá-los a 3,3% ao mês.
Enquanto se opõem a gastos não-inflacionários em saúde (pois custeados por nova arrecadação correspondente), os economistas oficiais dilapidam o patrimônio público pagando juros absolutamente irracionais. Falou-se em processar criminalmente os administradores que permitiram o superendividamento do Banespa. O que o governo está fazendo é muitos bilhões de reais mais grave.

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