São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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Sucessor se envolve com reestruturação da Vicunha

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão do grupo Vicunha de acelerar seu programa de modernização industrial colocou de prontidão o engenheiro Eduardo Rabinovich, 35. Filho de Jacks Rabinovich, um dos sócios-fundadores do conglomerado de 23 empresas têxteis, Eduardo, pós-graduado em administração e tecnologia têxtil na Universidade da Carolina do Norte (Costa Leste dos EUA), arregaçou as mangas no projeto mais importante em que se envolveu desde que se tornou, há dois anos, membro do comitê executivo do grupo.
Trata-se da Pacajus Têxtil, erguida na cidade homônima a 40 minutos de Fortaleza (CE), ao custo de US$ 80 milhões, cuja produção de índigo deve atingir 100 milhões de metros anuais.
“Participei de praticamente todas as fases desse projeto, desde a compra de equipamentos de ponta”, diz.
Nem bem as máquinas foram ligadas, há duas semanas, os planos de duplicação já saíram da gaveta. “A Vicunha é a terceira produtora mundial de índigo. Queremos que a fatia destinada à exportação dobre para 40% da produção.”
A Pacajus não foi a única frente de obras em 1995. No primeiro semestre, o grupo inaugurou em Natal (RN) a Textília, uma fábrica controlada por computadores e movida a teares japonesas que produz 25 milhões de metros anuais de brim de algodão.
Após a abertura do mercado brasileiro, o grupo adotou a estratégia de se ancorar nos negócios globais e quer duplicar de 15% para 30% da produção os volumes exportados. Nesse movimento, tece alianças com líderes mundiais e necessita contar com fábricas competitivas.
A primeira dessas parcerias foi firmada com a DuPont, para a construção, em Americana (133 km a noroeste de São Paulo), da “mais moderna” unidade de náilon têxtil do mundo, a Fibra DuPont, orçada em US$ 170 milhões.
“Algumas empresas serão fundidas e as de maquinário obsoleto serão fechadas”, revela Eduardo. “Todas as unidades da Vicunha serão de classe mundial”, acrescenta. Somente em 1995 os investimentos somam US$ 300 milhões.
Ajudar a erguer novas fábricas e escolher equipamentos são as atividades preferidas de Eduardo que, fora do expediente, se dedica à criação de mangalargas.
No início de outubro, ele participará de uma feira mundial de máquinas que se realiza a cada quatro anos em Milão, na Itália. Aproveitará a oportunidade para visitar unidades nas áreas de fiação, tecelagem e malharia.
No comitê executivo, encarregado de supervisionar a gestão das empresas têxteis - que operam de forma profissionalizada e independente -, ele faz uma “dobradinha” com Ricardo Steinbruch, filho do empresário Mendel Steinbruch, já morto, também fundador do grupo.
Eduardo ressalta que as decisões são tomadas em conjunto com dois outros membros do comitê: o pai, Jacks, e Benjamin Steinbruch, irmão de Ricardo.
“Só investiremos em projetos com taxa de retorno atraente e em setores emergentes do ponto de vista global”, revela Eduardo. Exemplo disso é a ofensiva na área de índigo - “o Brasil é o segundo maior consumidor mundial de índigo para jeans, que agora chegam à China” - e de matéria-prima para embalagens.
Licenciada pela Lee dos EUA para produzir jeans no mercado brasileiro, a Vicunha se prepara para potencializar a capacidade (15 mil peças diárias) da Lee Nordeste.
Segundo o roteiro traçado por Rabinovich e Ricardo Steinbruch, dentro de três anos o número de lojas da marca deverá saltar de atuais 7 para 80, alavancadas pelo sistema de franchising.
A ofensiva mercadológica terá início em novembro próximo, com o lançamento de modelos europeus e uma campanha publicitária que deve consumir US$ 1 milhão.
Serão também expandidos os volumes de peças com marcas de terceiros (“private label”). “A produção mensal deve duplicar para 500 mil unidades mensais em 1996 e, no prazo de três anos, atingir 1 milhão”, diz Eduardo. O representante da segunda geração na Vicunha diz ter sido fundamental a passagem pela faculdade de administração têxtil da Carolina do Norte, que acolhe a cada ano 3.000 alunos de diferentes países.
“Como a escola faz grande parte das pesquisas para as indústrias, trava-se contato com tecnologias e equipamentos supermodernos.”
Foi nesse campus que se desenvolveu o sistema que viabilizou o jeans “feito sob medida”, trunfo da Levi’s no mercado americano.
Duas experiências completaram sua formação: estágio numa distribuidora de valores e administração da fábrica de meias Jacareí, que pertence à família. “É muito importante conhecer a fundo o negócio. Para poder mandar, tem de saber fazer.”

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