São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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Tramas contra Havelange

SÍLVIO LANCELLOTTI

O suíço Sepp Blatter, secretário-geral da Fifa, já começou a tramar novamente contra o seu patrão e habitual protetor, João Havelange, o presidente da entidade.
Blatter, que adora ser ser chamado de coronel, patente extemporânea de uma tropa paramilitar de patrulheiros das montanhas da Helvécia, também idolatra o jogo dos bastidores, principalmente quando atua em dois times ao mesmo tempo.
Entre novembro de 1993 e março de 1994, batalhou arduamente para construir um movimento anti-Havelange, estimulando a candidatura oposicionista do italiano Antonio Materrese e, simultaneamente, tentando a sua própria.
O brasileiro, todavia, agiu de modo fulminante. Alinhavou uma série de acordos com a Uefa e com as confederações da África e da Ásia, desativou a bomba de Blatter e conseguiu conquistar um sexto mandato no trono da Fifa.
Como Havelange, com mais quatro anos de poder, esqueceu as suas promessas, o sueco Lennart Johansson, presidente da Uefa, praticamente rompeu com a Fifa, na última semana, ao anunciar que a Europa, de qualquer maneira, enfrentará o brasileiro no próximo pleito da entidade, em 98.
O anúncio aconteceu numa reunião especial da Uefa, no Porto, em Portugal, onde Blatter esteve presente como, digamos, um observador da Fifa. Em vez de espionar em favor de Havelange, todavia, o suíço, melifluamente, se comportou como um europeu, um aliado à disposição dos seus conterrâneos de continente.
Eternamente simpático, a distribuir distintivos e chaveirinhos com o símbolo amarelo da campanha do "Fair Play", o jogo limpo, Blatter obteve de Johansson um compromisso ainda informal: permanecerá no posto de secretário-geral, preservando o seu salário anual de US$ 300 mil, caso o sueco ganhe a batalha.
Em troca, caberá a Blatter fornecer a Johannson os cerca de 50 votos que controla na Ásia e na África -votos que, somados aos 49 da Europa, poderão decidir o combate. A Fifa ostenta 191 filiadas. Johansson, portanto, garantiria o seu desembarque no trono da entidade sem esforços ulteriores.
Resumo da ópera? Sim, Havelange costuma agir como um ditador absolutista, um fato lastimável. A traição pelas costas e nos subterrâneos, entretanto, é sempre abominável. Principalmente porque Blatter, a cada dia, pensa menos no futebol do que no seu cargo e nos seus robustos rendimentos.

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