São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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Loucura perseguiu a poeta

MARILENE FELINTO
DA ENVIADA ESPECIAL

Loucura da mãe perseguiu a poeta durante toda a sua vida
"Você é uma Elizabeth", conclui a menina de sete anos, que folheia um exemplar da revista "National Geographic", na sala de espera de um dentista, no autobiográfico poema "In the Waiting Room", de Elizabeth Bishop. "Você é um eu/ você é um deles", espanta-se a menina ao ter noção de sua própria identidade: noção que lhe veio através da geografia e que cresceria nela como uma questão de geografia.
A mulher Elizabeth viajaria pelo mundo em busca de si mesma. A poeta Bishop traçaria em poemas o intrincado mapa de sua busca pessoal. Filha única do casal William Thomas Bishop e Gertrud Bulmer, nasceu em 8 de fevereiro de 1911, em Worcester, Massachusetts, na costa leste dos EUA. Não conheceu o pai, que morreu quando ela tinha oito meses. Foi com a mãe morar na casa dos avós maternos, na puritana cidadezinha de Great Village, Nova Escócia, também no leste.
Em 1916, viu a mãe ser internada num hospício, incapaz de se recuperar do choque causado pela morte do marido. Começava aí a história de solidão e abandono da órfã Elizabeth, educada em parte pelos avós maternos, em parte pelos avós e tios paternos.
Em um documentário, o poeta James Merril, amigo de Bishop, comenta que ela passaria a vida toda em busca do lar que nunca teve. "Não é à toa", diz ele, "que seu primeiro poema se chama 'The Map' (O Mapa) e seu último livro publicado recebeu o título de 'Geography III'. Ela era fascinada pela idéia de onde as coisas estão, em relação umas às outras". O livro "Questions of Travel - Brazil" (Questões de Viagem, 1965, ed. Farrar/Straus/Giroux), dedicado a Lota, é exemplo desse tema em sua obra.
A história da loucura da mãe haveria de perseguir a existência da poeta. Em acessos de embriaguez, temia por sua própria sanidade mental. Robert Seaver, um rapaz que se apaixonou pela jovem Bishop, suicidou-se dois anos depois que ela deixou a faculdade, mandando-lhe antes um bilhete pelo correio, que dizia: "Elizabeth, vá para o inferno".
Na opinião de Mary McCarthy, o que atraía Bishop a Robert Lowell era também o fato de ele ter sido louco. "Lowell tinha surtos de esquizofrenia", afirma à Folha Emanuel Brasil, que conheceu Lowell através de Bishop. A vida de duas das amantes de Bishop também foi rondada pelo espectro da loucura: além de Lota, que se suicidou, Suzanne Bowen -ou XY, pseudônimos de Roxanne Cummmings, cujo nome verdadeiro nunca apareceu em nenhuma de suas biografias, revela Emanuel- foi internada várias vezes por desequilíbrio mental.

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