São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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Político japonês é reencarnação do tio de Buda, diz seita

RICHARD LLOYD PARRY
THE INDEPENDENT DE LONDRES

Em Tóquio
Hiroshi Mitsuzuka se destaca entre os políticos japoneses ambiciosos por ser o que nunca deu certo. Ministro das Relações Exteriores por pouco tempo, tendo quase chegado a primeiro-ministro, ele sempre teve azar e sua carreira nunca deslanchou realmente.
Um mês atrás, Mitsuzuka foi nomeado secretário-geral do PLD (Partido Liberal Democrata), mas de lá para cá os ventos políticos mudaram de direção.
Mitsuzuka não é jovem -tem 68 anos- e não lhe restam muitas cartas políticas para dar. Então o que dizer desta?
Segundo um livro recém-lançado, Mitsuzuka é a reencarnação de um famoso samurai e de um parente consanguíneo de Buda -um homem destinado a "criar um governo que receberá a proteção divina do Reino Celestial", se lhe derem a chance.
A afirmação não é feita pelo próprio Mitsuzuka, mas por um grupo religioso chamado Instituto de Pesquisas sobre a Felicidade Humana. O instituto é presidido pelo ex-empresário Ryuho Okawa, 39, que o teria fundado em 1986, atendendo a pedidos feitos pessoalmente por Buda, Cristo, Confúcio e Albert Einstein, de quem ele seria a reencarnação.
Hoje, a seita já tem mais de dois milhões de membros e é imensamente rica, com uma receita estimada em US$ 45 milhões por ano, derivada de doações, de fitas e da venda dos muitos livros de Okawa.
Sua teologia é um confuso misto de budismo, cristianismo e contribuições pessoais dos ancestrais divinos de seu fundador, com quem ele afirma conversar.
Okawa sempre mostrou grande interesse pelos assuntos mundiais e, em seus livros anteriores, previu um apocalipse terrível no qual o Japão iria finalmente triunfar sobre a Rússia e os Estados Unidos, que seriam aniquilados.
Mas num culto recente, realizado em Tóquio com a participação de 50 mil de seus seguidores, ele pediu uma aliança mais próxima com os EUA. "Devemos erigir uma torre de luz no topo do governo japonês... Recomendo Hiroshi Mitsuzuka para ser o próximo primeiro-ministro, não para nós, mas para o mundo, para a Terra."
A seguir, ele revelou as encarnações anteriores de Mitsuzuka, como tio de Buda, dois mil anos atrás, e um corajoso samurai do século 17, que ficou célebre por matar um tigre.
O livro em que ele promove Mitsuzuka, "O Caminho Certo para o Renascimento do Japão", integra a lista dos best sellers.
Terá início em outubro o julgamento de Shoko Asahara, a cuja seita, Aum Shinrikyo (Ensinamento da Verdade), é atribuída a culpa pelo atentado com gás no metrô de Tóquio que, em março passado, matou 12 pessoas.
Após a prisão de Asahara, em maio, houve um acordo entre todos os partidos para a revisão da lei japonesa relativa às seitas religiosas, que concede generosas isenções de impostos às 185 mil seitas no país.
Mas é pouco provável que a lei seja amplamente revista, tendo em vista a enorme influência que os grupos religiosos exercem sobre a política japonesa.
Esses grupos oferecem dois ingredientes vitais aos partidos: dinheiro e votos.

Tradução de Clara Allain

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