São Paulo, segunda-feira, 25 de setembro de 1995
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No Japão, cinema faz 100 anos em 97

Primeira projeção foi antes no Brasil

AMIR LABAKI
EM TÓQUIO

O Japão estende por dois anos as celebrações do centenário do cinema. Comemora neste ano a efeméride mundial e em fevereiro de 1997 os cem anos da primeira sessão nipônica.
A projeção inaugural foi improvisada num teatro kabuki de Osaka por Constant Girel, um dos enviados dos irmãos Lumière. Isso mesmo: há um século, a principal novidade da nascente indústria do entretenimento alcançou os japoneses seis meses depois de encantar os brasileiros. Mauá explica.
Claro que foi formado um comitê japonês de organização dos eventos ligados ao centenário. Seu presidente, Shigehiko Hasumi, é um renomado crítico de cinema e tradutor de francês. Hasumi verteu Flaubert, Sartre e Deleuze e também o insuperável "Hitchcock-Truffaut" e "Godard por Godard".
"Mais que um centenário, queremos festejar o segundo século do cinema", costuma afirmar. Com a abertura de novas salas ultra-sofisticadas e a realização de uma série de retrospectivas, aposta-se na formação do público de amanhã.
Assumidamente francófilo, Hasumi prepara para breve grandes ciclos dedicados a Georges Méliès, a Jean Renoir e à também centenária produtora Gaumont. Mas é mesmo a chegada do cinema ao Japão que pauta a iniciativa maior.
Tóquio e Osaka recebem em dezembro próximo uma retrospectiva completa dos curtas rodados pelos operadores Lumière no país. Além de Girel, o outro grande pioneiro sob contrato de Lumière foi Gabriel Veyre, um personagem fascinante que apresentou o cinema tanto ao Japão quanto a Cuba. Ninguém menos que Yoshishige Yoshida prepara um documentário sobre as andanças de Veyre.
Hasumi-san destaca ainda a primeira retrospectiva completa de Masahiro Makino, a quem compara com o americano Raoul Walsh, "tanto pela abundância de seus filmes quanto pela precisão de sua encenação". Revisão histórica é o que não falta nestes dias. Só o presente festival de Tóquio está exibindo duas retrospectivas de clássicos. A maior delas traz catorze filmes da chamada "era de ouro" do cinema japonês (de 1932 a 1941) em cópias estalando de novas.
Por sua vez, nove filmes divididos em sete sessões fazem polêmica na mostra "Minhas Obras Favoritas do Cinema Japonês". Cem especialistas do mundo inteiro foram ouvidos. A breve lista traz muitas surpresas. Para começar, não apresenta nenhum título de dois dos gigantes mundialmente reverenciados: Kenji Mizoguchi e Akira Kurosawa. O terceiro, Yasujiro Ozu, marca presença com um único filme, "Filho Único" (1936).
É o incontornável pessimismo extraído de dramas cotidianos por Mikio Naruse (1905- 1969) que se consagra. Naruse não apenas foi o único cineasta a emplacar dois filmes na pesquisa com os críticos ("Três Irmãs de Coração Puro", de 35, e "O Crisântemo Tardio", de 54) como ainda posicionou dois outros na retrospectiva de filmes restaurados.
Mas a surpresa das surpresas foi a inclusão de um filme de um diretor não-japonês no ciclo. É "A Saga de Anatahan", drama de guerra rodado em 1953 pelo barroco Josef von Sternberg ("O Anjo Azul"). Seria como posicionar "É Tudo Verdade" (It's All True) de Orson Welles, apesar de inacabado, entre os dez maiores filmes brasileiros.

O crítico AMIR LABAKI viaja a Tóquio a convite da Fundação Japão

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