São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 1995 |
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Itamar foi fichado por simpatizar com PCB
DENISE MADUEÑO
O ex-presidente Jânio Quadros, o deputado Rubens Paiva, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré, Ronaldo Bôscoli, Dias Gomes, Ziraldo, Florestan Fernandes, Cândido Mendes e o deputado Alberto Goldman (PMDB-SP) também foram investigados pelo Dops de Goiás entre 1971 e 1979. As fichas com seus nomes foram encontradas ontem na última das nove caixas abertas pela comissão formada por membros da UFG (Universidade Federal de Goiás) e Secretaria de Segurança. A comissão foi encarregada de catalogar os documentos do arquivo do Dops, que estava em poder do Exército até o mês passado. A ficha com o nome de Itamar diz que seus dados constam da pasta de número 134. Seu dossiê recebeu o número 2.856. A pasta e o dossiê não estavam no arquivo. Com a data de 1976, a ficha de Itamar tem a seguinte observação: "Relações com o PCB -Documento anexo à Informação nº 569/76 do 42º Bimtz (Batalhão de Infantaria Motorizada, hoje 3ª Brigada do Exército) Doc. 01". Como Itamar, centenas de outros fichados pela polícia política receberam uma pasta e um dossiê que não constavam do arquivo. As fichas trazem referências sobre nomes, número da pasta e do dossiê. Algumas remetem para outras pastas do Comando Militar do Planalto, do Ministério do Exército, ou à pasta que recebeu o nome de "Organizações Subversivas". No caso de Jânio Quadros, há uma única observação: "Vide Organizações Subversivas -lista 4". Mas a lista não consta do arquivo. Dias Gomes foi classificado como "esquerdista". Caetano, Gil, Rubens Paiva e Goldman foram considerados "subversivos". Desaparecidos políticos cujos nomes constam da lista oficial do governo, como Caiuby Alves de Castro, David Capistrano e Paulo Tarso Celestino, aparecem nas fichas. Mas seus dossiês sumiram. Os documentos sobre os dois militantes da Molipo (Movimento de Libertação Popular), Arno Preiss e Ruy Carlos Vieira Berbert, foram os mais completos de todos os documentos encontrados. Seus dossiês trazem depoimentos sobre suas prisões e mortes. Sobre os desaparecidos e mortos na Guerrilha do Araguaia, as únicas informações nos documentos do arquivo foram pedidos de busca e prisão de quatro militantes. A maior expectativa na abertura dos arquivos do Dops de Goiás era a possibilidade de encontrar documentos sobre a Guerrilha do Araguaia, ocorrida em Goiás entre 1972 e 1974. Morreram no Araguaia pelo menos 70 das 80 pessoas desaparecidas no Estado. O coordenador do grupo Tortura Nunca Mais em Goiás, Waldomiro Batista, afirmou que as fichas sem os dossiês provam que o arquivo foi "maquiado" antes de ser entregue à universidade. Para Batista, o grupo vai promover manifestações nas portas dos quartéis e ministérios militares. "Vamos continuar a luta para elucidar as circunstâncias das mortes e desaparecimentos. Não tenho dúvidas de que as Forças Armadas querem manter fechadas as informações do que aconteceu no país", diz. Texto Anterior: Grupo invade prédio do Incra em Teresina; Famílias se recusam a deixar fazenda em SP; Arraes diz que demora acaba gerando invasões Próximo Texto: Mãe diz querer saber quem matou seu filho Índice |
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