São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 1995
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'Chefões' elevam filme de gângster à tragédia

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao relacionar, entre seus filmes preferidos, a trilogia "O Poderoso Chefão", de Francis Ford Coppola, Jô Soares reforça a idéia de que se trata de um único grande filme, dividido em três atos.
Ao adaptar, em 72, o livro de Mario Puzo -no máximo um bom romance de entretenimento- sobre a família mafiosa Corleone, Coppola renovou o filme de gângster sem propriamente romper com o cinema clássico, mas radicalizando-o e levando-o ao grau da perfeição.
Tudo é muito sólido no filme, a começar pela história. Um patriarca mafioso, Vito Corleone (Marlon Brando), ao chegar à velhice, preocupa-se com a continuação da "famiglia", ao mesmo tempo que resiste às pressões para entrar no ramo do tráfico de drogas.
Reserva para o filho mais novo, Michael (Al Pacino), o papel de levar uma vida limpa, para ser a fachada honrada do clã. Mas o destino, como nas tragédias gregas, faz tudo acontecer ao contrário, e Michael torna-se o mais mafioso de todos -e o novo chefão.
Essa história é contada com a exuberância visual de uma ópera, graças em parte a um elenco inigualável, à música "quente" de Nino Rota e à fotografia excepcional de Gordon Willis, que explora as várias texturas e tonalidades do negro. O requinte plástico do filme só é comparável aos de Visconti.
Na segunda parte, filmada dois anos depois, o núcleo temático se mantém, mas a história se distende no tempo, para trás (a juventude de Vito Corleone, interpretado por De Niro) e para frente (a maturidade e danação de Michael).
Na terceira e última parte, de 1990, é a vez de Michael, "entrado em anos", pensar na sua sucessão. Entram em cena a filha do chefão (Sofia Coppola, que é o bebê batizado no primeiro filme) e um sobrinho bastardo (Andy Garcia) que tem de provar sua bravura para ser admitido como sucessor.
Vista em conjunto, a trilogia apresenta uma forma narrativa em espiral: os mesmos temas e situações retornam reiteradamente, mas a cada vez num patamar dramático e circunstancial diverso.
Nos três filmes a estrutura é semelhante: há um acúmulo lento de tensões que desembocam numa rápida sequência final de matança e acerto de contas. Nos três, também, tangenciam-se assuntos contemporâneos à história narrada: a Segunda Guerra, a revolução cubana, a crise no Vaticano.
Nos três, enfim, a tragédia se fecha mantendo o mesmo núcleo gerador: a dialética entre a desagregação e a unidade da família.

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