São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 1995
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Revolução cultural

O Brasil precisa de uma revolução cultural. Não uma daquelas promovidas por Mao Tse-tung, na China, cujo principal resultado foi milhões de vítimas, mas sim uma no sentido exatamente inverso, com o propósito de salvar vidas e torná-las mais dignas para a maioria dos brasileiros.
Trata-se de uma revolução cultural na administração pública. Embora sejam muitos os países em que a imagem do funcionário público é a do sujeito que trabalha pouco, de má vontade e sem nenhuma preocupação com o serviço prestado, no Brasil isso, descontadas as honrosas exceções, já deixou de ser apenas imagem para tornar-se uma triste e cara realidade.
Também ressalvadas as exceções, a administração dos hospitais públicos é caótica. Mesmo em centros de excelência, a cultura do desperdício, do inchaço de quadros e da desorganização burocrática são perceptíveis a olho nu.
Funcionários mal remunerados e sem nenhuma função disputam as cadeiras com os pacientes.
E a saúde é apenas um exemplo de um Estado paquidérmico que administra -e muito mal- as mais diversas áreas, do ensino às incontáveis empresas estatais.
O Estado que cresceu demais, contratou demais, viu-se, aos poucos, sem recursos para fornecer salários dignos. Em compensação, começou a oferecer ao funcionalismo pequenas vantagens -aposentadorias especiais, quinta hora para professores etc.- que, na verdade, não só não resolvem a situação financeira de seus quadros como ajudam a deteriorar sua imagem junto ao público. O efeito, perverso, é que os melhores quadros do país hoje evitam a carreira pública.
Mais recursos para áreas como saúde e educação são, como é óbvio, sempre bem-vindos. A obrigação anterior do Estado, contudo, é gastar bem as verbas de que já dispõe. Revolução cultural já.

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