São Paulo, quinta-feira, 28 de setembro de 1995
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Presidente da Contag exigiu saída de Brazílio

SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA</FD:TEXTO><UN>

Com a demissão Brazílio de Araújo Neto e sua substituição por Francisco Graziano, o governo espera transferir as reivindicações dos sem-terra da porteira das fazendas -onde o conflito quase sempre termina em violência- para a “porteira” do Incra.
A Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) queria mais: além da demissão de Brazílio, defendia que a reforma agrária se instalasse na “porteira” do Palácio do Planalto.
A idéia é transformar o Incra em órgão negociador. Desde que Brazílio assumiu, em maio, os sem-terra se recusavam a dialogar com o instituto.
O governo usou a demissão do presidente do Incra como moeda de troca nas negociações com a Contag. Em reunião no Planalto, anteontem à tarde, o presidente da Contag, Francisco Urbano, fez duas reivindicações: a cabeça do então presidente do instituto e a vinculação do Incra e de toda a política de reforma agrária à Presidência da República. Urbano é ligado ao PSDB, partido de FHC.
FHC aceitou a demissão mas, junto com Clóvis Carvalho (chefe da Casa Civil), se posicionou contra a transferência do Incra para o Planalto. Na opinião do presidente e de Carvalho, isso daria força às reivindicações de setores das áreas de Cultura e Ciência e Tecnologia -os primos-pobres do Orçamento da União- que também reivindicam essa vinculação ao Planalto.
FHC começou a trabalhar a intervenção no Incra no final da semana passada, logo depois de voltar da viagem à Europa. Sábado e domingo conversou com assessores e na segunda-feira tomou as primeiras decisões.
O chefe do gabinete pessoal de FHC, Francisco Graziano, participou pessoalmente das articulações que culmiraram com a demissão de Brazílio. Foi ele quem telefonou na segunda-feira passada para o presidente da Contag, Francisco Urbano, convocando-o para uma audiência anteontem com FHC. Urbano estava em Natal (RN).
Segundo Urbano, o chefe de gabinete disse haver urgência na convocação, mas não adiantou o assunto. Na audiência, FHC afirmou estar preocupado com a radicalização do movimento dos sem-terra e pediu sugestões à Contag para amenizar os ânimos.
Graziano acompanhou, junto com Clóvis Carvalho, os 40 minutos da conversa em que Urbano pediu a exoneração do presidente do Incra.
O encontro com o presidente da Contag foi precedido de uma reunião, também no Planalto, mas às 10h30, em que FHC e Andrade Vieira discutiram o impasse em torno da reforma agrária -o governo sem dinheiro para cumprir as metas de assentamentos e os sem-terra radicalizando as ações.
Chegou a ser discutido um endurecimento contra as ações dos sem-terra. A idéia era enquadrar judicialmente os organizadores das invasões, mas foi descartada pelo presidente porque poderia levar a uma radicalização ainda maior.
Acabou se optando pela demissão de Brazílio. Em troca, o governo cobrou da Contag uma ação concreta para controlar a violência dos sem-terra. Foi nessas reuniões que FHC começou a preparar uma agenda de discussões sobre a reforma agrária com o PT e CNBB.

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