São Paulo, quinta-feira, 28 de setembro de 1995
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Hollywood ofusca produção do México

MICHEL BRAUDEAU
DO "LE MONDE"

Não há um mexicano que não saiba de cor a pequena lamentação do ditador Porfírio Diaz -"Pobre México, tão longe de Deus, tão perto dos Estados Unidos."- e nenhum cineasta que não a repita, como justificativa cômoda para explicar as desgraças e a decadência de seu cinema.
É verdade que o lobo malvado do Norte, com o qual o México mantém relações tão complexas e apaixonadas, é enorme.
Mas não é a única razão de todos os males que oprimem esse país poderoso e rico, que cultiva a pobreza e o paradoxo com um masoquismo flamejante.
Importado para a Cidade do México por dois operadores dos irmãos Lumière, oito meses depois de ter sido apresentado em Paris, o cinema junta-se rapidamente à Revolução Mexicana de 1910.
A maioria dos filmes são documentários, fazem o registro dos campos de batalha e da multidão que se comprime diante da objetiva para ser filmada.
Há apenas poucos filmes de ficção do tempo do cinema mudo. Os mexicanos vêem filmes estrangeiros, europeus, principalmente franceses e italianos, cujas atrizes lhes agradam mais do que as estrelas norte-americanas.
Em seguida, com a chegada do cinema falado, passa-se de um cinema mais ou menos amador e familiar para uma verdadeira indústria. A idade de ouro do cinema mexicano dura pouco mais de vinte anos, de 1930 a 1952.
Vê-se então, o triunfo da comédia camponesa "rancheira" e do melodrama também camponês, com mulheres inacessíveis e fatais (como Maria Felix, Dolores del Rio, Ninon Sevilla), cômicos populares como Cantinflas e o sublime Tin Tan.
É preciso visitar, enquanto é possível, os sobreviventes dessa época, como, Rosa Carmina, a esposa do diretor Juan Orol.
Espera-se cruzar com uma velhinha charmosa, mas é uma incrível jovem vampe, com uma idade realmente parada no tempo, não longe dos 70 anos, que lhe abre a porta de um apartamento decorado no estilo "kitsch-histérico-tropicalizado", vestida com um traje de babados que ela procura levantar para mostrar pernas perfeitas.
"Cheguei de Cuba em 1946 e encontrei Juan Orol que me notou. Ele rodava cinco ou seis filmes ao mesmo tempo, daí os problemas de montagem, às vezes, muito engraçados. Ria-se muito durante a filmagem de melodramas."
"Distribuía-se lenços para os espectadores na entrada do cinema e se eles os devolvessem secos, seriam reembolsados. O público era formidável naquela época. Se o projecionista não passasse o rolo em que estava a melhor canção, as pessoas demoliam a sala."
Ivan Trujillo, historiador do cinema mexicano, resume sobriamente: "As pessoas adoravam chorar em 1940."
Nessa paisagem em preto-e-branco existem cactos, cavaleiros que passam com sombreiro, revólver em punho, como sombras negras sob céus imensos e mulheres de semblante grave ou cruel.
É um universo muito cristão, um mundo do erro onde as mulheres ou são mães ou prostitutas, ou as duas, com um pouco de sorte.
Canta-se e dança-se muito, não importa o que aconteça. Desenvolve-se nos cabarés um gênero que corresponde às comédias musicais norte-americanas, mais sexy, o das "rumberas", dançarinas de rumba, de propósito indecorosas e provocantes, personalidades de grande caracterização.
Paul Leduc, Jaime Humberto Hermosillo, Roberto Sneider ("Dois Crimes"), Arturo Ripstein (com o recente "Princípio e Fim") são os autores conhecidos no mundo.
Todos eles "nasceram" de um concurso de cinema experimental organizado em 1965 e que permitiu o surgimento da nova geração.

LEIA MAIS
Sobre cinema mexicano nas págs. 6-26 e 6-28

Tradução Bertha Halpern Gurovitz

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