São Paulo, sábado, 30 de setembro de 1995
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A mão sem dedos

JANIO DE FREITAS

Enquanto os juros na ciranda financeira transferem bilhões dos cofres públicos para bolsos já endinheirados, os reitores de universidades federais, reunidos em Brasília, concluem que só lhes resta suspender as atividades, porque já "não têm dinheiro nem para despesas como luz, limpeza, água, segurança".
O documento que os reitores prepararam para entregar ontem ao ministro Paulo Renato de Souza, da Educação, foi o sexto do ano. Os cinco anteriores não mereceram a condescendência de uma resposta.
A educação era um dos dedos em que o ex-professor universitário Fernando Henrique Cardoso depositava as cinco prioridades do seu programa de governo. Ficaram os anéis, foram-se os dedos.

A lei de sempre
O governo estuda, segundo a jornalista Silvia Faria, impostos automaticamente maiores para os importados que cheguem ao Brasil com preços menores que os dos produtos similares brasileiros.
Sendo hoje os preços brasileiros dos mais altos do mundo, a única vantagem das importações, para a economia e para os consumidores, é dispor de produtos melhores com melhores preços. O governo, pelo visto, quer extinguir a vantagem, para acabar de vez com a concorrência.
E ainda diz que os preços nacionais estão liberados porque a lei do mercado é que manda. Mas não diz, nem precisa, quem manda no governo.

Incorreção
Enfim uma correção para pior.
Em nota do dia 17, referi-me à segunda prisão do capitão Roberto Argolo Araújo, da PM fluminense, por roubo de carro. Condenado a apenas um ano e dois meses quando da primeira prisão, foi dispensado da pena (pela Justiça Militar, escrevi) para continuar em sua atividade predileta. Carta do tt.coronel PM Luís Carlos Viégas da Silva faz a primeira correção: neste mês Argolo foi preso, não pela segunda, mas pela terceira vez em flagrante por roubo de carro.
Segunda correção: a gentil sentença seguida de liberação foi emitida pela 23ª Vara Criminal da Justiça fluminense, e não pela Justiça Militar. A 38ª Vara concedeu o outro alvará de soltura.
Um aspecto ainda não relatado é que, em seguida aos dois primeiros flagrantes, o Conselho de Justificação da PM pronunciou-se pela demissão de Argolo, e o então comandante da corporação mandou os processos para o pronunciamento do presidente do Tribunal de Justiça à época, Antonio Carlos Amorim. A PM nunca recebeu resposta. Daí o segundo flagrante de Argolo, o terceiro flagrante e sua permanência, até hoje, como oficial da PM.
E ainda há quem ache absurda a criminalidade no Rio. É apenas lógica.

Sem dúvida
De Pedro Malan na Câmara: "Não sou neoliberal. Não sei o que é isso".
Se não sabe o que é, como sabe que não é?
Pois é.

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