São Paulo, sábado, 30 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Resultado contrapõe os gostos do público e da crítica cinematográfica

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os resultados de melhores filmes, atores e diretores captados pelo Datafolha trazem a tentação de apontar de imediato o divórcio entre o gosto do público, de um lado, e da crítica, de outro.
Basta comparar as listas de melhores filmes dos críticos com esta que saiu da opinião do público. Não há nada em comum. O filme "Cidadão Kane", unânime como o melhor de todos os tempos -para os especialistas-, é substituído por "Ghost" -para o público.
A essa tentação, vem a disposição de ler as diferenças como contraposição entre algo como "alta cultura" dos críticos contra a "baixa cultura" do público.
Ao fazer isso, é possível estar embarcando em uma análise pelo menos problemática. "Quando você pergunta a alguém na rua qual o melhor filme, está testando mais memória que conhecimento", diz o crítico Fernão Ramos. "Para não parecer ignorante, fala o primeiro nome que vem à cabeça."
Mais "top of mind" que qualidade cinematográfica, a pesquisa testaria popularidade -e Ramos observa que os mais citados têm maior presença na TV.
O cineasta André Klotzel faz considerações parecidas: "O crítico tem um tempo de elaboração que o sujeito na rua não tem. A pesquisa não permite reflexão, mesmo para quem tenha cultura cinematográfica."
A tentação agora é atribuir o abismo de gostos ao método de pesquisa. Outra simplificação.
"Existe uma diferença entre filmes preocupados com uma reflexão cultural e outros não, embora em alguns casos se misturem", diz Ramos. Não se trata de fazer um juízo de valor, segundo Ramos, mas "mostrar ao público que existe outro tipo de filme".
Um dado levantado pelo Datafolha ajuda nessa questão: a maioria do público, 52%, vai ao cinema atrás de diversão, embora não seja desprezível a fatia de público que diz procurar cultura (39%).
"É diversão mesmo, sempre foi assim. O cinema começou como entretenimento", diz o produtor Aníbal Massaini Neto. Como Klotzel, ele observa que o quadro não é diferente de outro países.
Fernão Ramos levanta o mesmo argumento: "Na França, por exemplo, há uma grande preocupação com os filmes nacionais, mas o público vai mesmo ver Stallone e coisas desse tipo."
O "argumento França" traz novo elemento: a contraposição público/crítica recobre a disputa de mercado entre dois centros produtores: Hollywood e Europa.
Pela qualidade ou pela envergadura industrial, Hollywood tem vencido. O Datafolha mostra que 57% do público prefere os norte-americanos, contra 37% que escolhem o estilo europeu.

Texto Anterior: Preferência por Mazzaropi está ligada ao "fenômeno sertanejo"
Próximo Texto: Veja como foi feita a pesquisa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.