São Paulo, segunda-feira, 1 de janeiro de 1996
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"País tem impostos elevados"

FRANCISCO SANTOS

Folha - A participação na Fórmula Indy (patrocínio da equipe Hollywood PacWest) é parte dessa estratégia de internacionalização da marca?
Andrade - Quando escolhemos um evento internacional como esse, tínhamos em mente a exploração internacional de Hollywood. Em 1996, o investimento no evento será de US$ 10 milhões.
Folha - Uma vez que as exportações estão entre as prioridades, quais as metas da Souza Cruz nesta área?
Andrade - Eu não tenho hoje uma meta em termos de fatia do mercado internacional. O que eu vou preservar é o fato de que termos uma parcela ponderável do mercado nacional ajuda no internacional. A idéia é manter a preponderância do mercado nacional e crescer no internacional. Este ano vamos exportar entre 13% e 15% da produção.
Folha - Quais as metas de investimento da empresa?
Andrade - A previsão é investir US$ 650 milhões nos próximos anos, com o objetivo de atualização do nosso parque industrial de processamento de fumo e de produção de cigarros.
Folha - Qual a situação do mercado quando o sr. assume a presidência da Souza Cruz? Até 94 ele vinha caindo.
Andrade - Isso mudou muito a partir do Plano Real. Em 94 tivemos um volume de vendas parecido com 93, depois de um primeiro semestre ruim e um segundo semestre bom. Em 95, até setembro, o mercado cresceu 18% em relação a 94, o que é expressivo. A Souza Cruz cresceu 23% no mesmo período. Nossa participação no mercado passou de 78% para 82% nos nove primeiros meses do ano. 95 foi um ano particularmente expressivo para a companhia.
Folha - O resultado deverá ir também nessa direção.
Andrade - Eu acho que o resultado será melhor do que o de 94, que foi um ano muito pobre. O lucro foi de US$ 75 milhões, para uma companhia que faturou um pouco mais de US$ 3,5 bilhões. Agora, eu tenho dito, publicamente, que o cigarro é caro no Brasil.
Folha - Por quê?
Andrade - Porque os impostos são elevados. O Brasil está chegando a preços próximos aos dos Estados Unidos. Enquanto nos Estados Unidos estamos falando em 35% sobre o preço ao consumidor, no Brasil, estamos falando em 73,5%. Mas eu acho que o mais importante, e isso vai ser uma das minhas tarefas, é insistir que em um ambiente de estabilidade econômica a carga tributária tem que ser revista. Nós precisamos privilegiar o desenvolvimento do comércio, da produção.
Folha - Os srs. já têm um pleito junto ao governo com esse objetivo. Como está esse assunto?
Andrade - Parado. Uma redução da carga tributária em cinco pontos percentuais permitiria reduzir o preço em pelo menos 20%. Vamos continuar falando com as autoridades. Acreditamos que os preços mais acessíveis fazem com que o governo arrecade mais. Porque os preços desequilibrados em relação aos países vizinhos está fazendo com que o contrabando cresça no país.
Folha - Qual o volume contrabandeado?
Andrade - Algo em torno de 17% a 20% de um mercado que em 95 deve ter sido de 130 bilhões de unidades. Em 1991 o preço do cigarro no Brasil era a metade de hoje. E não havia contrabando.
Folha - A redução de preços não provocaria uma explosão de tabagismo?
Andrade - Tenho ouvido esse argumento, mas isso está equivocado. A população está fumando hoje da mesma forma. Só que está fumando produtos contrabandeados, que não pagam impostos.
Folha - Como será a sua gestão em relação às campanhas antitabagistas?
Andrade - Nos últimos meses de 95 nós demos uma pequena amostra de como será nossa postura. Ela será de informar a posição do maior fabricante industrial do Brasil a respeito da questão fumo e suas controvérsias e, principalmente, o fumante passivo. Um teste feito em avião mostrou que um não-fumante exposto à fumaça de cigarros em um trecho Nova York-Tóquio-Nova York fumaria o equivalente a um cigarro. Vamos trazer à tona esse tipo de informação e deixar que as pessoas tomem suas próprias decisões.
Folha - O crescimento do antitabagismo seria mais consequência de desinformação que dos males causados pelo cigarro?
Andrade - O antitabagismo traz dividendos políticos. Como a indústria tem falado muito pouco sobre o assunto, ele tem avançado. Nossa postura será informar, sem jamais dizer que o cigarro não faz mal à saúde.

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