São Paulo, segunda-feira, 1 de janeiro de 1996
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Ano de 1996 será decisivo para TV no país

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA FOLHA

1996 pode vir a ser um ano-chave para a televisão no Brasil. Os números ainda são pouco conhecidos, mas é sabido que a televisão vem passando por profundas transformações.
Há uma diversificação de opções advinda da popularização do videocassete, da disseminação de antenas parabólicas e do crescimento vertiginoso do número de assinaturas de TV a cabo. O que não está claro é até que ponto as modificações trarão mais democracia e pluralismo.
O momento de redefinição acena com a possibilidade de diversificação da programação, de descentralização da produção, de incremento da produção independente, de ruptura do controle coronelista sobre as concessões de rádio e televisão.
Há também uma sensível redistribuição da audiência, consequência da queda de cerca de 20% nos índices do Ibope do horário nobre da Rede Globo nos últimos 5 anos.
As transformações estruturais se fazem sentir -ainda que de forma sutil- na programação das grandes redes. A trajetória do "Jornal Nacional" talvez seja a que melhor simboliza as mudanças.
Criado em 1969, como primeiro programa transmitido simultaneamente para todo o Brasil, o "Jornal Nacional" se transformou rapidamente no carro-chefe da programação hegemônica da Globo.
Esmerou-se no apuro técnico e ao longo dos anos foi definindo sua pauta como uma versão televisiva da "Hora do Brasil". Diante da queda de audiência, a linha editorial do "JN" vem se tornando menos governista.
Mas a indefinição dos novos tempos está estampada na falta de um projeto alternativo claramente consolidado. Embora ainda seja capaz de criar fatos políticos, como no recente episódio das denúncias feitas contra a Igreja Universal, o "JN" é hoje um jornal sem personalidade definida.
O surgimento da TV a cabo, que hoje exibe quase exclusivamente programação estrangeira, acena com a abertura de novo mercado para os produtores de vídeo.
Na nova situação, talvez seja possível romper o modelo típico da Hollywood dos anos 40, que ainda vigora entre nós e que permite a concentração de produção e emissão nas mãos da mesma empresa.
Mas, apesar de toda a expectativa, os exemplos de produções independentes, ou pelo menos fora das emissoras abertas, ainda são muito tímidos. Com o especial de Caetano Veloso, dirigido por Monique Gardemberg, que foi ao ar no último dia 26, a HBO acaba de entrar na produção de especiais musicais no Brasil. A GNT mantém alguns programas, como "Idéias" ou "Manhatan Connection". Fala-se de "Chatô" transformado em filme, seriado e documentário.
Mas a efervescência não é tão forte quanto parece. Basta observar que Daniel Filho, diretor da bem-sucedida série "Confissões de Adolescente", acaba de abandonar sua opção pela produção independente, voltando à velha casa global, que aliás controla bastante do mercado de TV a cabo.

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