São Paulo, terça-feira, 2 de janeiro de 1996
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'Amarcord' é o favorito das personalidades

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Qual é o filme da sua vida? A Folha fez essa pergunta ao longo de 1995, a partir de 16 de janeiro, a 304 personalidades nacionais e estrangeiras das mais diversas áreas -atores, cineastas, estilistas, músicos, políticos, esportistas, entre outros.
A cada dia do ano (menos aos domingos) a "Ilustrada" publicou um quadro com o voto de um entrevistado e seu comentário. Feito o cômputo dos filmes citados, "Amarcord", de Federico Fellini, ganhou disparado: 11 citações.
Em segundo lugar, empatados com sete menções, "...E o Vento Levou", de Victor Fleming, e "Cinema Paradiso", de Giuseppe Tornatore.
Só depois desses três aparece, com seis votos, aquele que a crítica internacional costuma considerar o maior filme de todos os tempos, "Cidadão Kane", de Orson Welles, que aliás recebeu o primeiro voto da enquete, dado pelo crítico teatral Décio de Almeida Prado, em 16 de janeiro.
O que há em comum entre os três filmes que bateram o clássico de Orson Welles na preferência das personalidades? Apesar das enormes diferenças de gênero, qualidade e estilo entre eles, os três são filmes que arrebatam o espectador pela emoção.
Era justamente esse o sentido da pesquisa: ao responder sobre o filme que marcou a sua vida, cada entrevistado deveria levar em conta menos as razões do intelecto que as do coração.
Não se tratava de eleger os "melhores filmes", mas sim aqueles que tiveram maior impacto sobre a vida das personalidades, que revelavam assim seu lado de espectadores comuns.
Isso explica o caráter curioso de certos votos, como o do músico Hermeto Paschoal, que escolheu "os filmes do Zorro, por causa do sargento Garcia".
Ou então o do compositor Paulinho da Viola, que destacou "O Ladrão de Bagdá" por ter marcado sua infância com "as imagens de navios, cavernas e aquela pedra que se mexia".
O espírito informal, não-rigoroso da enquete explica também eventuais erros e atos falhos dos entrevistados.
O sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, por exemplo, votou em "Rashomon", mas quando foi resumir a história do filme mostrou que estava pensando em outra obra de Akira Kurosawa, "Os Sete Samurais".
O diretor teatral Gabriel Villela votou em "Amarcord", mas disse que o filme começava com a montagem de um circo. Na verdade, começa com a construção de uma enorme fogueira comemorativa do fim do inverno. A memória (tema do filme, aliás) às vezes trai.
Alguns entrevistados declararam ter visto muitas vezes o filme escolhido, mas o cineasta e ator José Mojica Marins (o Zé do Caixão) exagerou: disse que viu "...E o Vento Levou" nada menos que 56 vezes.

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