São Paulo, quarta-feira, 3 de janeiro de 1996
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São Paulo busca o prestígio perdido

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O São Paulo, que sonhava com Giovanni, vai mesmo de Sandoval em busca do prestígio perdido no ano que passou. Prestígio, aliás, que começou a perder desde o instante em que Raí arrumou as malas para a França. Quer dizer: a partir do instante em que o tricolor, bicampeão do mundo, deixou de contar no seu meio-campo com um jogador de porte, técnico e até físico. Enfim, um tipo mais ou menos parecido com Giovanni, embora o santista, tecnicamente, me pareça muito superior. Tentou ajeitar-se com a experiência de Alemão e de Cerezo, mas ambos são mais retraídos taticamente, e o resultado foi a campanha frustrada de 95.
Falou-se, então, em Amoroso, outro que se encaixa naquele perfil ideal de armador-ponta-de-lança. O que terá acontecido? De repente, baixou um silêncio absoluto sobre Amoroso. Cobiça demais do Guarani, ou o tricolor terá obtido alguma informação desalentadora sobre a capacidade de recuperação desse craque?
O fato é que a meia-direita tricolor será mesmo ocupada por Sandoval, um jogador hábil, solidário e de chute forte, que teve boa performance no Guarani e no Goiás. Nada, porém, excepcional.
*
Um detalhe que passou quase despercebido nas finais do Brasileirão: os goleiros de Santos e Botafogo -Edinho e Wagner- são negros. Fato raro no futebol do país de Jorge Amado. Raro, sobretudo, quando sabemos que ambos foram muito bem votados nas listas dos melhores do torneio (Wagner foi escolhido o goleiro do Brasileiro pela CBF).
A verdade é que já tivemos ilustres negros na posição, no passado. Assim de estalo, vale lembrar a figura de Jaguaré, que jogou no Vasco, na França, lá pelos anos 30, celebrizado pelas visagens que fazia sob os três paus. Conta-se que provocava pênaltis só para defendê-los e em seguida girar a bola sobre o dedo indicador, numa afronta ao adversário.
Barbosa, que reinou nos anos 40, até a tragédia de 50, ao contrário, era sério, mas acabou estigmatizado pelo fatídico gol de Gigghia. E seu sucessor, o elegante e plástico Veludo, que se revezava no gol do Fluminense com o legendário Castilho, retomou a saga de Jaguaré, mergulhando na boemia que o levou ainda moço dos campos e da vida. De vida longa, mas igualmente irreverente, foi o nosso Manga, do Botafogo, do Inter-RS e do Nacional de Montevidéu, que, apesar de ter sido um dos mais completos que vi em ação, nunca se fixou na seleção, desde Barbosa, um panteão dos brancos.
Há quem explique esse fenômeno de que negros e mulatos simplesmente são mais criativos do que os brancos com a bola nos pés, e o gol é para onde se mandam os moleques desajeitados. Outros, como o velho treinador e ex-goleiro da seleção, Aymoré Moreira, defendem teses esdrúxulas, como as de que o goleiro negro serve de melhor ponto de referência para o atacante adversário.
Se as alternativas forem só essas, prefiro ficar com a primeira.

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