São Paulo, quarta-feira, 3 de janeiro de 1996
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Excesso de pecados transforma "O Padre" num filme indigesto

CÁSSIO STARLING CARLOS
DA REDAÇÃO

"O Padre" é um filme feito para incomodar. Claramente inspirada na obra de crítica social do diretor Ken Loach, a diretora Antonia Bird desfia um rosário de assuntos espinhosos.
Um padre chega a uma paróquia em Liverpool e entre os "desvios" que encontra o mais leve é o de um outro padre que tem uma companheira de cama e mesa.
O filme inteiro vai perseguir as ambiguidades da obediência do padre Gregg. De um lado, ele se mantém fiel a sua fé e aos mandamentos religiosos. De outro, ele não consegue escapar aos impulsos da própria carne.
Um perfume de escândalo exala do filme à medida que avança no tema do homossexualismo. Sem conseguir desobedecer a própria carne, Gregg vê-se lançado no inferno da dúvida quando se apaixona por um outro homem. Para piorar seu calvário, ele ouve em confissão uma garota que está sofrendo abusos sexuais do próprio pai.
O excesso de tabus -celibato, homossexualismo, incesto- tornam "O Padre" um filme indigesto. Por mais que tente questionar os tabus religiosos, o roteiro não ajuda muito, pois recai em uma forma de moral a fim de salvaguardar a inocência e o perdão.
A cena final é emblemática. O fato de Gregg sujeitar-se ao perdão reinsere o filme na mesma perspectiva cristã -da culpa- da qual tentava se livrar.

Filme: O Padre
Direção: Antonia Bird
Elenco: Linus Roache, Cathy Tyson
Distribuição: Top Tape (tel.011/826-3066)

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