São Paulo, quarta-feira, 3 de janeiro de 1996
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Pelos fundos

Os fundos de pensão das estatais brasileiras sempre foram controvertidos. A começar do fato de que são meras dependências do poder público, já que seus dirigentes são nomeados -e, portanto, demissíveis a qualquer instante- pelo ministro ao qual está subordinada a estatal.
Além disso, essa ligação umbilical com o poder público cria distorções na forma de se capitalizar os fundos, entrando a estatal com recursos em geral superiores aos aportados pelos demais cotistas. Traduzindo, a sociedade colabora, sem o desejar, para os cofres de fundos que vão beneficiar apenas uma parcela mínima da população (os trabalhadores das estatais).
Agora, no entanto, os fundos acrescentam mais um aspecto polêmico, para dizer o mínimo, em sua atuação: vários deles, sob comando da Previ (o fundo do Banco do Brasil), compraram um conjunto de empresas mineradoras, visando a fundi-las em uma única companhia.
Ora, fundos de pensão não deveriam destinar-se a ter a propriedade direta de empresas. Seu papel -aí sim essencial- é o de administrar recursos e, por meio deles, alavancar o mercado de capitais. Um papel, de resto, ainda mais fundamental no Brasil, país no qual as bolsas de valores têm sido historicamente pouco mais do que anêmicas.
Tudo indica que o defeito de origem -a vinculação abusiva com o governo- induz os fundos das estatais ao mesmo erro de sucessivos governos brasileiros, o de tentar exercer o papel de empresário. Sempre o fizeram mal.

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