São Paulo, quinta-feira, 4 de janeiro de 1996
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Trabalho extra

JANIO DE FREITAS

Ninguém duvida de que os petardos do presidente Fernando Henrique contra a ação do ministro Adib Jatene, no entanto elogiada no "balanço" presidencial de fim de ano, têm o objetivo de incentivar a recusa, pelos parlamentares, da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, cujos R$ 6 bilhões de arrecadação o ministro considera indispensáveis à saúde.
As declarações do presidente estão custando a Jatene um esforço adicional, para não deixar que prevaleçam efeitos negativos à arrecadação pela qual batalha há um ano.
Ao "Globo", o ministro corrigiu uma das afirmações pesadas de Fernando Henrique ("Dobrei as verbas da Saúde e nada mudou"). Dos R$ 9,7 bilhões recebidos por seu ministério para custeio em 95, R$ 2,9 bilhões foram usados para pagar dívidas do governo anterior. Restaram, portanto, R$ 6,8 bilhões para custeio, que não significaram aumento do dinheiro disponível.
A esta coluna, o ministro, referindo-se ao artigo de ontem ("Questão de Saúde"), quis esclarecer que ele próprio mencionou ao presidente o valor de R$ 83 por habitante, se dividido o gasto total do ministério pela população.
Fica o registro, mas prevalece o argumento, aqui usado, de que o pagamento de dívidas do governo passado não se confunde com os gastos do atual governo em saúde, não cabendo dizer que o gasto por habitante já passou dos prometidos R$ 8O. Ainda está longe deles.
Guerras
Há algo de antigo e algo de muito contemporâneo na guerra que tem a Igreja Universal como centro. Lembra muito as guerras na Chicago dos anos 2O e suas equivalentes nos morros cariocas pelo domínio do tráfico.
Os meios de comunicação não figuram na guerra atual melhor do que figuraram nas de Chicago, quando a eficiência da reportagem americana foi muito comprometida pelo medo e pela corrupção; nem melhor do que na violência favelada, cujo tratamento jornalístico é frequentemente viciado pela politicagem e pelo invencionismo sensacionalista.
Apesar de todas as manchetes, por exemplo, sobre diferentes inquéritos, cassação de canais, investigações externas, não consta que haja, até esta altura, qualquer ação investigativa consequente.
Por sinal que, se vier a acontecer alguma, seria muito proveitosa sua extensão ao ex-vice do bispo Edir Macedo e hoje seu principal acusador, Carlos Magno, também fundador de uma seita -entre outras façanhas que o assemelham ao acusado.
Morde/sopra
O atual governo está consolidando o hábito de fazer acusações em público e retificá-las em particular. Há pouco foi o ministro Bresser Pereira, que fez divulgar uma lista de "marajás" do serviço público e, denunciada a falsidade da listagem, andou distribuindo pedidos de desculpas particulares.
Agora foi o presidente Fernando Henrique a telefonar para Cláudio Mauch, diretor do Banco Central, para passar a borracha na acusação pública que lhe fez, dando-o como responsável pela divulgação da pasta rosa.
Entre políticos, sempre prontos a recompor-se com o insultante, vá lá. Mas, fora da política, a noção de dignidade é outra, embora não geral.
Exibição
Frase do ministro Reinhold Stephanes, desejoso de que os parlamentares não mais se ocupem da "reforma" da Previdência senão para votá-la: "Não há mais o que discutir. A não ser alguns pontos polêmicos."
Estão aí, em demonstração resumida, o senso e a lógica que fizeram o projeto de "reforma" apresentado por Stephanes.

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