São Paulo, sábado, 6 de janeiro de 1996
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Secretário é acusado de privilegiar Universal

AZIZ FILHO
DA SUCURSAL DO RIO

O secretário estadual de Trabalho e Ação Social do Rio, Aldir Cabral de Araújo, que pertence aos quadros da Igreja Universal do Reino de Deus, está sendo acusado de demitir antigos funcionários e contratar em seu lugar pessoas ligadas à igreja.
Cabral demitiu 380 pessoas e contratou outras 209 entre janeiro e setembro de 1995, todas por meio do Sine (Sistema Nacional de Empregos) do Rio, subordinado à Secretaria.
Cópia da folha de pagamento de outubro, à qual a Folha teve acesso, demonstra que 24 chefes de postos do Sine haviam sido substituídos na gestão do secretário.
Pelo menos dois chefes contratados são comprovadamente parentes de dirigentes da Igreja Universal do Reino de Deus, comandada pelo bispo Edir Macedo.
O Sine é mantido com verbas do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), mas administrado pela Secretaria do Trabalho do Rio de Janeiro.
Andrea Cabral de Araújo, chefe do posto do Sine na Cidade de Deus (zona oeste do Rio) é irmã do secretário Aldir Cabral e foi contratada em junho, com salário-base de R$ 964,00.
Jorge Wilson de Matos Júnior, filho de outro membro da Universal, deputado Jorge Wilson de Matos (PPB-RJ), é chefe do posto de Niterói desde julho, com o mesmo salário-base.
Laprovita
O deputado Odenir Laprovita Vieira (PPB), pastor da Universal e investigado pela Polícia Federal sob acusação de sonegação fiscal, teve dois irmãos nomeados em fevereiro: Enyr Laprovita Vieira (R$1.554,00), o supervisor dos postos, e Marilene Laprovita (R$ 551,00), contratada como psicóloga.
A ex-chefe do miniposto do Sine em São Gonçalo (região metropolitana do Rio) Fátima Regina de Oliveira Laudino disse à Folha ter sido demitida em agosto para dar lugar a Vania Fernandes Lemos, há dez anos obreira de um templo da Universal em Zé Garoto, bairro central de São Gonçalo.
Acordo político
Deputado federal eleito pelo PFL, Aldir Cabral foi nomeado graças ao acordo entre o governador Marcello Alencar (PSDB) e a Igreja Universal, que apoiou o tucano no segundo turno contra Anthony Garotinho (PDT). À Folha, Alencar negou que a nomeação de Cabral tivesse qualquer relação com o apoio que lhe foi dado pela Igreja.
Segundo o presidente da Associação de Funcionários do Sine, Carlos Antonio Nascimento, "a absoluta maioria dos contratados e dos indicados para os empregos do Sine é de evangélicos". O coordenador do Sine, Vitor Paulo Araújo dos Santos, é pastor da igreja.
As denúncias de que o Sine tem sido usado para empregar fiéis da Universal, dentro da estratégia da igreja de aumentar sua presença nas comunidades carentes, tem gerado críticas de deputados e vereadores aliados ao governador.
Em outubro último, após o episódio em que o pastor Von Helde chutou a imagem de Nossa Senhora Aparecida, Alencar demitiu o subsecretário de Trabalho, Eli Patrício, também pastor, por ter usado o cargo para pedir proteção policial para um templo em Botafogo (zona sul do Rio).

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