São Paulo, sábado, 6 de janeiro de 1996
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Há 25 anos morria a estilista

Chanel determinou a moda e a mulher deste século

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

A bolsa de alças em correntinhas, as pérolas, o tailleur bem-cortado, o cabelo curto, o vestido "pretinho". Símbolos de eterna elegância que atendem pelas seis letras que mudaram a história da moda e da mulher deste século: Chanel. Dia 10 de janeiro, quarta-feira, faz 25 anos de sua morte.
Chanel criou a figura da estilista-mito. Fez de sua moda sua imagem e semelhança, a de uma mulher independente, bem-sucedida, de personalidade forte e presença.
No início do século, ajudou a libertar o corpo da mulher das estruturas rígidas do corselet no início do século. E explodiu mesmo depois da Primeira Guerra. Tanto que disparou a frase, um de seus clássicos aforismos: "Em 1919 acordei famosa".
É que, com os homens no front, as mulheres foram para o trabalho. E essa mulher precisava de novas roupas, mais confortáveis, práticas e funcionais.
Foi a partir daí que passou literalmente a lançar moda. As mulheres imitavam (e compravam) suas roupas, seu perfume, seu estilo, o corte de seus cabelos. Chanel transformou-se num ícone feminino e feminista.
Nada mau para uma menina que ficou órfã aos 11 anos e que passou os outros anos de sua infância junto com suas três irmãs num orfanato de freiras. Aos 21, alugou um quarto com sua irmã, onde passou a fazer reformas para fora. Aos domingos, trabalhava numa alfaiataria.
Veio dessa época o apelido, Coco (pronuncia-se cocô), que veio a substituir o nome do qual nunca gostou (escolhido no hospital em que nasceu). Gabrielle Chanel trabalhava também como poseuse, as moças que cantavam no coro. Um de seus sucessos era uma canção sobre uma moça que havia perdido seu cão no parque. O nome do cachorrinho? Coco.
Seu primeiro negócio próprio foi uma chapelaria -o presente do momento que os homens davam a suas amantes. E Chanel sempre escolhia os amantes certos.
Depois de três anos ela abria sua primeira loja, onde ela passou a desenvolver roupas fluidas, esportivas e caras, inspiradas em estilos como iatismo e pólo. A partir de 1913, a primeira revolução, ao usar tecidos como o jérsei.
O sucesso absoluto durou até 1939, quando, com a Segunda Guerra, Chanel fechou sua maison de alta-costura. "Isso não é hora para moda". Durante a guerra, teria mantido um caso com um oficial da Alemanha nazista. Depois, não encontrou espaço diante do que se julgou um tipo de colaboracionismo -tese sempre negada pela estilista, que passou os dez anos seguintes na Suíça. Reabriu em 54, sem muita glória, o que veio em 57, quando os tailleurs com dois bolsos conquistaram o mundo. Os anos 60 e todo o furacão jovem trouxeram o eclipse do estilo Chanel. Ela continuou trabalhando até sua morte: "A moda muda, o estilo permanece".

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