São Paulo, sábado, 6 de janeiro de 1996
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O remédio que envenena

O convívio entre homens e mulheres em uma mesma cela, em delegacias de Belém-PA, segundo recente denúncia da OAB, é mais um episódio a expor a situação calamitosa dos presídios no país.
A perniciosa aliança entre a promiscuidade e o que acaba sendo um treinamento para o crime tem estigmatizado, com crescente dramaticidade, o sistema carcerário. E isso contribui também para determinar sua inoperância.
Em tese, são bastante questionáveis os efeitos práticos do confinamento de criminosos que não oferecem significativo perigo à sociedade. Mesmo para a recuperação dos que representam uma ameaça ao convívio social o isolamento puro e simples, sem qualquer tipo de acompanhamento psicossocial e de atividade produtiva, tem-se mostrado notoriamente inócuo.
Considerando-se, além disso, as péssimas condições em que se encontra a grande maioria dos presídios no Brasil, o encarceramento indiscriminado termina por apenas reforçar ainda mais os males que se deseja combater.
O irresponsável amontoamento dos detentos em espaços físicos extremamente reduzidos, tornando inevitável a proliferação de hábitos no mínimo condenáveis, acaba também servindo para a reciclagem de estratégias ilícitas entre aqueles que, em maior ou menor grau, já têm suas biografias ligadas à criminalidade e à contravenção.
O convívio entre semelhantes -que até pode ser curativo, segundo princípio da medicina homeopática- tem se mostrado letal na doença carcerária.

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