São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
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Políticos vão a Codó em busca de orientação

CRIS GUTKOSKI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CODÓ

Codó é a meca dos políticos que buscam "ajuda espiritual" para vencer eleições e derrubar inimigos. Essa é a única certeza de estudiosos e pais-de-santo sobre a dimensão dos cultos afro em Codó, São Luís e Salvador (BA) -possivelmente as três cidades nordestinas com maior número de adeptos da umbanda e candomblé.
A lista de notáveis frequentadores é encabeçada pelo presidente do Congresso, José Sarney (PMDB-AP). "Nós somos amigos há muito tempo", diz o pai-de-santo Bita do Barão.
O pai-de-santo torce pelo sucesso de Sarney com ou sem pedido especial. "Quando eu sei que ele está lidando com um desses atos dele, eu já fico aqui rezando para tudo dar certo", declara.
Bita e o pai-de-santo Domingos Paiva afirmam que já estão sendo procurados por políticos de outros Estados de olho nas eleições municipais de 96. Paiva tem viagem marcada para Foz do Iguaçu (PR), onde conhecerá um empresário que pretende se candidatar.
O pai-de-santo garante que, consultando as entidades espirituais que recebe, consegue tornar um candidato "mais simpático e progressista" e, ao mesmo tempo, quebrar as forças dos adversários.
No pacote da "ajuda espiritual" para políticos estão incluídos conselhos sobre que horário sair de casa, que cor de roupa vestir, o que comer, como falar.
Embalados pela fama de eficácia dos serviços, os preços são salgados. Fazer escala em Codó em busca de votos custa de R$ 5 mil a R$ 10 mil se o guia for Domingos Paiva e muito mais se o escolhido for Bita do Barão. "R$ 10 mil é pouco", declara. "Ainda mais para eleger prefeito, que é quem puxa do gancho", afirma, referindo-se ao fato de o provável eleito dispor do dinheiro da prefeitura para pagar pela ajuda.
(CG)

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