São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
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Onda de fusões demite executivos

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A onda de fusões e aquisições de bancos apenas começou, mas seus reflexos já atingem uma boa parte da mão-de-obra especializada do mercado financeiro.
Uma legião de executivos que perderam o emprego nas recentes compras e liquidações de bancos está pronta para invadir o mercado novamente, de currículos em punho -exceto, claro, os dispostos a passar para o outro lado do balcão, tornando-se empresários.
Há pelo menos 150 executivos de primeira linha preparando-se para retornar ao mercado de trabalho, estima o "head hunter" (caçador de talentos) Alfredo José Assumpção, sócio da Fesa (Financial Executives Search Associates), empresa especializada no recrutamento de bancários.
Esses trabalhadores de colarinho branco, que recebiam boladas de R$ 100 mil a R$ 1 milhão anuais, sobraram na primeira fase do processo de reestruturação do sistema bancário. São ex-funcionários do Nacional (incorporado parcialmente pelo Unibanco), do Econômico (comprado pelo Excel), do Banorte (adquirido pelo Bandeirantes) e de uma dezena de bancos liquidados pelo BC nos últimos meses.
Dentre eles, estão desempregados pelo menos 70 ex-diretores do Nacional, demitidos pelo Unibanco nos últimos 30 dias, como parte dos cortes anunciados de 446 funcionários do banco extinto.
Como a tendência é de mais enxugamento no setor financeiro -prevê-se que o número de bancos no país cairá de 240 para uma centena nos próximos anos -, a briga pelos empregos remanescentes ficará cada vez mais acirrada.
"Quem não teve culpa direta pela quebra do Nacional ou do Econômico irá com certeza recolocar-se no mercado. Os bancos sempre procuram os melhores profissionais e já estão de olho nesse pessoal", diz Assumpção.
Assim como ele, outros "head hunters" estão fazendo a festa nesse processo, encaminhando executivos que os procuram e caçando outros a pedido dos bancos. É o caso de Thomas Case, presidente do Grupo Catho. Ele já tem uma carteira de clientes formada por novos desempregados.
"Os bons estão conseguindo voltar. Embora a indústria bancária esteja encolhendo no país, sempre há lugar para os melhores administradores", afirma Case.
"E há muitos bancos estrangeiros que estão chegando e precisarão desta mão-de-obra."
Os primeiros a conseguir emprego num mercado cada vez mais globalizado e competitivo serão os melhores qualificados, isto é, com vasta experiência e com formação (como pós-graduação) no exterior.
"No ambiente inflacionário em que vivíamos, os profissionais formados no Brasil valiam mais que os com diploma de Harvard. Agora, com a estabilidade, a competição muda de figura", observa Assumpção.
Com ou sem talento e ajuda especializada, o retorno dos demitidos dependerá também da área de atuação anterior. Profissionais com relacionamento direto com clientes, por exemplo, serão disputados. Outros, como do setor de informática -que tende a enxugar-se cada vez mais devido às fusões-, terão mais dificuldade para voltar ao sistema bancário.
"Alguns executivos têm um patrimônio valioso, que é a carteira de clientes. Outros terão que buscar emprego em outros setores da economia ou então abrir negócios próprios", diz Case.

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