São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
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Projeto em favela no Rio dá prancha a bom aluno

DA SUCURSAL DO RIO

Os garotos que moram nas favelas do Rio de Janeiro e conseguem apresentar um bom rendimento escolar estão virando os mais novos surfistas da cidade.
A iniciativa é do Surfavela, um projeto que funciona há oito anos no Ciep (Centro Integrado de Educação Pública) de Ipanema (zona sul do Rio).
Um dos mais novos surfistas da cidade é o garoto Robson da Silva, o Fefê, 13, que ganhou de presente do Surfavela a sua primeira prancha de surfe.
Morador da favela do morro do Cantagalo, localizada entre os bairros de Copacabana e Ipanema, Fefê passou de ano na escola e, como prêmio, já pode surfar com sua prancha.
"Agora, tudo o que quero é me profissionalizar", diz o garoto, um dos 20 que atualmente contam com o apoio do projeto.
Diariamente, Fefê chega na praia do Arpoador (zona sul) às 8h e só consegue sair da água ao anoitecer.
Como ele, outros 250 garotos com idade entre 6 e 18 anos aprenderam a praticar o surfe entre 1994 e 1995.
Segundo o coordenador do projeto, Vanderlei Paiva Gonçalves, o Berzó, 34, o objetivo do projeto é procurar integrar, através do surfe, as crianças que vivem em um ambiente de marginalidade, onde convivem diariamente com o tráfico de drogas.
"Para esses meninos, o perigo está no asfalto. Dentro da água, eles não têm como ser desviados para o crime porque o surfe passa a ser tudo para eles", afirma Berzó, que também é surfista e morador da favela do Cantagalo há 30 anos.
A maior parte dos surfistas que passa pelo projeto Surfavela vem de morros da zona sul carioca -como Cantagalo, Pavão, Rocinha e Vidigal.
Além de começarem a praticar o surfe, eles aprendem a trabalhar com a fibra e com a resina quando consertam as pranchas que são levadas para a oficina-escola.
Para fazer parte do Surfavela, os meninos são estimulados a estudar. Ganha uma prancha, geralmente usada, quem frequenta a escola o ano inteiro e passa de ano.
Prancha nova vai para quem continua na escola e mantém bom desempenho.
Assim, os surfistas têm que mostrar seus boletins durante todo o ano ao coordenador do projeto.
"É como um prêmio para eles. Depois disso, procuramos transformar os mais talentosos em competidores", diz Berzó.
O obstáculo, segundo ele, é a falta de patrocinadores para mantê-los no esporte. "Muitos acabam deixando o surfe porque precisam trabalhar", lamenta.
Mesmo com a falta de incentivos, há casos como o de Cláudio Adão, 14, também morador do Cantagalo.
Patrocinado por uma grife de artigos de surfe, ele é considerado um dos "feras" do Arpoador e, como dizem os próprios surfistas locais, em pouco tempo vai 'arrebentar'.

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