São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
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Perspectivas frustradas

RICARDO YAZBEK

Crescer 15% em relação a 1994. Essa era a expectativa da indústria imobiliária para 95, amparada na performance do mercado no ano anterior.
À luz da estabilidade econômica -Plano Real-, o setor estava animado, acreditando na continuidade da retomada, o que, aliás, ocorreu no primeiro semestre, que teve um ritmo de comercialização acima da média histórica de 11% ao mês. O índice médio da velocidade de vendas (relação entre os negócios realizados e a oferta) foi de 12,8% entre janeiro e junho.
A partir de junho, porém, começaram a surgir os sinais do retrocesso. Naquele mês, o mercado passou a refletir os efeito da política monetária do governo, em que a taxa de juros estratosférica revelava os exageros do Executivo Federal nessa área.
Em julho, veio o grande golpe na continuidade do setor: a edição da medida provisória (MP) 1.053, de desindexação da economia, que travou o mercado por 100 dias, ou seja, até a reintrodução do equilíbrio econômico-financeiro dos contratos imobiliários, possibilitada pela correção da MP no mês de outubro.
Juros altos, recessão, medida provisória. A conjugação desses fatores fez com que o mercado imobiliário tivesse suas perspectivas frustradas. Ao invés de crescer 15%, a comercialização de imóveis decresceu 20% em 95.
A velocidade de vendas em julho foi de apenas 2,2%. Em outubro, com as citadas correções na MP, subiu para 6,5%, devendo fechar novembro com algo próximo a 6%, percentual que deve ser um pouco menor em dezembro, em razão da sazonalidade.
Entretanto, o pior resultado ficou por conta do volume de empregos. Apenas no período compreendido entre julho a outubro deste ano, foram demitidos 102 mil trabalhadores pela construção civil e imobiliária no Estado de São Paulo.
Um dado estarrecedor, uma vez que o operário desse segmento mora nas obras, onde tem refeições, atendimento médico e até alfabetização. Isso significa pelo menos mais 100 mil cidadãos que irão buscar num Estado deficitário os meios para a sua sobrevivência.
Para completar a análise, apenas mais um dado sobre a taxa de juros. A TR (Taxa Referencial) variou cerca de 31,5% em 95, contra elevação estimada do IGP-M de 16%. Assim, as dívidas corrigidas por este indexador -aliás, utilizado no âmbito do SFH para financiamentos à produção e à comercialização de imóveis residenciais- tiveram um aumento adicional de 13,5%!
O que esperamos para 96? No mínimo, que a equipe econômica reveja sua política monetária e reduza os juros, que estão causando um enorme estrago no setor produtivo da nação e inibindo novos investimentos. Que o Congresso faça a sua parte e aprove, ainda no primeiro trimestre, as reformas constitucionais fundamentais - previdenciária, tributária e administrativa.
Essas medidas são indispensáveis para garantir o desenvolvimento da economia em 96 e, principalmente, garantir o programa de estabilização, o qual, vale ressaltar, é de fundamental importância para a dinâmica da indústria imobiliária.
De nossa parte, estamos enviando ao governo sugestões -contidas no documento "Indústria Imobiliária: Caminho para o Desenvolvimento Sustentado"-, as quais, se implementadas, permitirão que o setor, com muita luta, reverta o quadro de 95 e tenha um desempenho próximo ao de 94.

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