São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
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EDITORAS SE ARMAM PARA ENFRENTAR 96

CÁSSIO STARLING CARLOS
EDITOR-ADJUNTO DO MAIS!

As editoras brasileiras se preparam para enfrentar 1996 com a arma da diversificação e muita concorrência. Isso, após um ano que lhes garantiu, pela primeira vez em muito tempo, um período completo de estabilização econômica (leia sobre o mercado à pág. 5-5).
As expectativas dos editores em geral são otimistas, mas a leva de lançamentos planejados ainda é tímida frente a um mercado que se julga em expansão.
Nesta edição, o Mais! antecipa alguns dos principais títulos que estarão nas livrarias em 1996 (leia nesta página) e também trechos de livros de Paul Valéry ("Monsieur Teste"), Robert Musil ("Obra Póstuma Publicada em Vida"), Giulio Carlo Argan ("Retratos de Obras e Artistas"), Tristan Corbière ("Os Amores Amarelos"), além de um extrato da nova aventura filosófica de Jostein Gaarder (autor do best seller "O Mundo de Sofia") e um ensaio inédito de Antonio Candido para a edição comemorativa dos 30 anos do romance "Maíra", de Darcy Ribeiro (leia às págs. 5-6, 5-7 e 5-8).
1996 é também o ano da 14ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, para a qual as editoras reservarão seus principais lançamentos. Mas já a partir deste mês o público terá acesso a uma variedade de títulos que abrangem de ensaios clássicos a teorias pós-modernas, não deixando de fora, como já é do gosto do leitor atual, muitas biografias e livros de referência ou de consulta.
A lista é extensa e representativa, mas alguns nomes ressaltam não só pelo peso da assinatura, quanto pelo número de títulos. O ponto alto dos lançamentos concentra-se nos ensaios clássicos, muitos deles aguardando tradução brasileira há décadas.
O pensador italiano Norberto Bobbio predomina, com quatro títulos que podem ajudar a restaurar o gosto pela reflexão política em tempos de indiferença.
O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) o acompanha de perto, direta ou indiretamente.
Sobre Heidegger serão lançados dois trabalhos biográficos. Um deles, de autoria de Elzbieta Ettinger, causou polêmica quando foi lançado na Feira de Frankfurt de 95 por descrever em detalhes a relação intelectual e amorosa que uniu o filósofo à pensadora de origem judia Hannah Arendt.
Pensador influente, mas renegado com frequência por sua adesão inicial ao nazismo, Heidegger retorna também com uma reunião de ensaios em que reinterpreta os fragmentos do filósofo pré-socrático Heráclito na perspectiva da história da metafísica.
Outro lançamento traz um texto essencial de Jean-Paul Sartre (1905-1980), um dos epígonos de Heidegger. Em "O Ser e o Nada", o pensador e escritor francês utiliza o método da descrição fenomenológica para concluir que a consciência, em relação ao mundo, é um vazio, um nada de ser, um campo pleno de possibilidades. Daí ele constrói sua reflexão ética sobre o homem -ser de consciência- como um "condenado à liberdade".
No ano do centenário de sua edição original, chega "Monsieur Teste", ensaio no qual o poeta e pensador francês Paul Valéry (1871-1945) forja um alter-ego e escreve, sob disfarce, uma autobiografia intelectual.
Entre os pensadores brasileiros a coletânea "O Livro dos Prefácios" prossegue a reedição de textos de Sérgio Buarque de Holanda há muito fora de circulação.
No campo dos ensaios contemporâneos, depois de "O Cânone Ocidental", Harold Bloom discute os ideais milenaristas em "Anjos, Sonhos e a Imortalidade".
O ano aponta também para o ressurgimento das teorias pós-modernas. Fredric Jameson investiga o próprio conceito, Paul Virilio amplia sua teoria dos vínculos da velocidade com o mundo atual e Peter Sloterdjik avalia os efeitos a longo prazo da união européia sobre a política do continente.
Para os curiosos por vidas alheias, Gore Vidal conta intimidades de seu convívio com celebridades como Jackie e John Kennedy em "Palimpsest". Do outro lado da mira, Norman Mailer reconstitui a vida de Lee Oswald nos anos que antecederam o assassinato de John Kennedy.
No setor ficção contemporânea, a expectativa gira em torno do mais recente romance de Salman Rushdie, "O Último Suspiro do Mouro", de quem será publicado também um curioso ensaio crítico sobre o filme "O Mágico de Oz".

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