São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
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Tire os olhos da paella nos espanhóis da cidade

JOSIMAR MELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Para boa parte do público e para quase todos os proprietários de restaurantes, o grande paradigma, a grande referência de qualidade, o grande cartão de visitas dos restaurantes espanhóis é a paella. Este prato típico e capitoso é normalmente visto como o padrão que mede a excelência -ou o fracasso- de uma casa.
Mas a paella é um prato que, no fundo, é simples e rústico, e que talvez represente a mesa espanhola mais por seu folclore e sua generosidade do que pelo paladar.
Seria interessante, aos que amam a cozinha ibérica, visitar alguns dos restaurantes espanhóis com atenção para os demais itens do cardápio. Neles, o que há de mais atraente é a riqueza dos tira-gostos (ou "tapas", capazes de distrair por horas o paladar); e principalmente a exuberância dos frutos do mar. Os pescados, crustáceos e mariscos tratados à moda espanhola -e mesmo sem o arroz e o açafrão que os acompanham nas paellas- traduzem de forma mais intensa aquela alegria de comer que é típica dos espanhóis e inigualável em qualquer outro país.
Paellas podem ser gostosas. E para quem as defende incondicionalmente, temos belos exemplares no tradicional e simpático Los Molinos, uma casa ampla e simples do Ipiranga; no novíssimo e mais impessoal Goya, do hotel Meliá; ou ainda no já veterano Valência, em Moema.
Mas como sobrar espaço no estômago para a paella quando se vai, digamos, ao Don Curro, diante da variedade de crustáceos grelhados "a la plancha", ou dos mariscos à vinagrete, tudo preparado ante os olhos embevecidos da clientela?
Ou como pensar em paella no Cantábrico diante de um prato de lulas na sua tinta ou de camarões? Ou ainda, diante dos peixes temperados com pimentão no jovial Barcelona, da Vila Madalena? Ou das lagostas na manteiga do La Coruña?
Como deter-se na paella ao passar pela mesa inteira de pescados trazidos da Espanha (com direito a polvos suculentos e delicadas anchovas) servida às sextas-feiras no Baby-Beef Rubaiyat?
É nos pescados frescos, e nas preparações mais simples e rápidas que reside o lado mais irresistível da mesa espanhola. Mas há para todos os gostos - mesmo para os que não desejem frutos do mar nem arroz.
Alternativas podem ser buscadas nas várias casas espanholas da cidade. No Dalí, os chorizos da entrada ou a perna de cordeiro assada são inspirados na cozinha catalã. No Fuentes, pode-se pedir o vigoroso puchero, o cozido espanhol. Sem esquecer do novo Cochinillo, uma casa batizada com o nome de seu prato principal -o tenro leitãozinho assado à pururuca. No seu cardápio, aliás, há vários pratos de arroz. Mas nenhuma paella.

LOS MOLINOS: r. Vasconcelos Drummond, 526, tel. 215-8211, Vila Monumento. DON CURRO: r. Alves Guimarães, 230, tel. 852-4712, Pinheiros. COCHINILLO: av. Santo Amaro, 5.197, tel. 531-6044, Santo Amaro. DALÍ: av. Aratãs, 754, tel. 241-6727, Moema. CANTÁBRICO: r. Dr. Homem de Mello, 828, tel. 263-2664, Perdizes. LA CORU¥A: r. Professor Arthur Ramos, 183, tel. 813-1232, Jardim Paulistano. VALÊNCIA: av. Lavandisca, 365, tel. 61-3917, Moema. GOYA: av. das Nações Unidas, 12.559, Hotel Meliá, tel. 893-8000, Brooklin. FUENTES: r. do Seminário, 149, tel. 228-1680, centro. BARCELONA: r. Mourato Coelho, 981/987, tel. 210-1195, Vila Madalena. BABY-BEEF RUBAYAT: alam. Santos, 86, tel. 289-6366, Paraíso

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