São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
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França coloca elite na cadeia por corrupção

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

A elite francesa está indo para a cadeia. Ministros, prefeitos, o presidente da maior fábrica de carros, da maior empreiteira do mundo, da maior TV francesa.
E até chefes de cozinha de restaurantes, suspeitos de terem sido subornados por um peixeiro.
O peixeiro queria monopolizar o mercado. Teria pagado propinas ao chefe do Tour d'Argent (o mais caro de Paris) e outros 32 restaurantes.
Durante a greve que parou o país, no final de 95, três em cada cinco franceses não confiavam em seus dirigentes. Nos meses da greve, 11 prefeitos foram presos.
Nesta semana também foram anunciadas a prisão do presidente da maior fabricante de automóveis da França, Louis Schweitzer, da estatal Renault, e a do presidente do quinto maior banco do país, André Lévy-Lang, do Paribas.
Schweitzer está envolvido em um caso de escutas telefônicas como chefe do gabinete do ex-premiê socialista Laurent Fabius (1984-86). Lévy-Lang foi preso por falsificação de auditoria.
No final do ano passado, foi preso Martin Bouygues, dono da maior empreiteira do mundo e maior acionista da TF1, rede de TV de maior audiência na França.
O empresário está envolvido no caso de corrupção do ex-prefeito de Lyon e ex-ministro Michel Noir. Noir já foi condenado por outro caso, que também envolveu e condenou há um ano o jornalista mais conhecido do país -Patrick Poivre d'Arvor, apresentador do jornal das 20h da TF1.
O presidente da TF1, Patrick Le Lay, por sua vez, foi preso no final de 1995, acusado de corromper o presidente da estatal das loterias para ter a exclusividade dos sorteios da Loto em sua TV.
Todos estão sob investigação e podem ter a prisão relaxada.
O caso de Bouygues puxa um longo fio de ligações condenáveis. O empreiteiro confessou que as filiais africanas de sua empresa faziam depósitos em contas suíças de empresas de fachada, que eram a caixinha ilegal da campanha de Michel Noir à Prefeitura de Lyon.
Noir era ministro do Comércio Exterior do então premiê Jacques Chirac, em 1986. Prefeito em 1989, deu um contrato de US$ 1,2 bilhão a Bouygues e ao grupo Lyonnaise des Eaux.
Em novembro, outro ex-ministro, e também prefeito de Grenoble, Alain Carignon, foi condenado a cinco anos. Ele facilitou a vitória da Lyonnaise em contrato.
A série de prisões de prefeitos virou piada. Um programa de humor criou o quadro "La Petite Prison dans la Mairie" ("A Prisãozinha na Prefeitura"), um trocadilho com "La Petite Maison dans la Prairie" ("A Casinha na Campina", um seriado piegas de TV).

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