São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
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Dirigente lança ataque ao controle da Rússia sobre material nuclear

The Independent
De Londres

PHIL REEVES
EM MOSCOU

O gigantesco establishment militar russo, que há muito tempo vem sendo acusado por ambientalistas de tratar materiais radiativos com descuido, foi alvo de críticas de um dirigente do órgão oficial de fiscalização nuclear, que avisou que o desleixo e a falta de monitoramento externo representam um "risco radiativo extremo".
Num artigo cáustico publicado no "Izvestia", Alexander Kaniguin, representante regional do Comitê Estatal de Supervisão da Segurança Atômica, pintou um quadro assustador da falta de segurança em instalações militares russas, destacando a irresponsabilidade no manuseio e na armazenagem de resíduos radiativos.
O incidente é a mais recente escaramuça entre os representantes do comitê e os poderosos generais russos sobre o direito de monitorar o trabalho dos militares com materiais radiativos.
A dimensão do problema apareceu em novembro, quando o grupo ambientalista norueguês Bellona mostrou fotos de recipientes de lixo nuclear de um dos primeiros submarinos nucleares russos.
Os recipientes, cada um dos quais seria tão radioativo quanto o primeiro teste francês do ano passado, foram jogados num lixão perto da fronteira norueguesa há mais de 30 anos. E ainda estão lá.
Kaniguin, ex-coronel que ocupou um alto cargo no departamento de guerra biológica e radiativa do Exército Vermelho, acusou os militares de não realizarem treinamento adequado, não proteger materiais perigosos e não analisar os danos potenciais aos humanos e ao meio ambiente.
Embora os militares sempre tenham resistido a qualquer inspeção externa, a controvérsia se acirrou seis meses atrás, quando o presidente Boris Ieltsin destituiu o comitê de seu direito formal de monitorar o manuseio de resíduos nucleares em instalações militares. A supervisão foi transferida ao Ministério da Defesa.
Em 1994, a revisão anual de segurança do setor nuclear russo exigiu que o ministério parasse de depositar resíduos radiativos no mar e pediu melhoras imediatas de várias atividades, desde o tratamento do lixo nuclear até os métodos de desmonte de submarinos.
Segundo Kaniguin, o decreto de Ieltsin permitiu que os generais qualificassem de sigilosas informações sobre seus materiais radiativo potencialmente letais.
Hoje, segundo ele, os russos correm mais perigo nas mãos de seu Exército do que de qualquer inimigo externo. Quando o Bellona investigava os recipientes de lixo nuclear, o serviço de segurança invadiu sedes do grupo na Rússia, apreendendo documentos e computadores e intimidando repetidamente seus colaboradores russos.
O Greenpeace enfrentou a mesma atitude quando pediu às autoridades navais autorização para checar níveis de radiação em locais acessíveis ao público, fora das bases. O pedido foi negado.
Um exemplo assustador das consequências dos problemas financeiros da Marinha chegou às manchetes no outono passado, quando a eletricidade de uma base da Frota Norte no Ártico foi cortada por falta de pagamento.
Houve perda do controle sobre os reatores nucleares em vários submarinos desativados. A eletricidade só voltou quando tropas foram à usina elétrica e forçaram os engenheiros a fazer a religação.

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