São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
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ocupando a cidade (e sua imagem)

CRISTINA ZAHAR

A Blockbuster derruba paredes em tempo recorde e modifica, com o seu visual agressivo, a cara da cidade. Em só um dia, a maior rede mundial de videolocadoras subiu quatro megalojas. Um verdadeiro arraso. De quarteirão.
Com apenas nove meses de vida, 13 lojas, 100 mil clientes e 1 milhão de fitas alugadas, a Blockbuster veio para ficar. As lojas azuis e amarelas, erguidas em dois meses, imprimiram sua marca à cidade. Agora, estão também no Pacaembu, em Pinheiros, na Vila Mariana e nos Jardins.
Tem mais: a Blockbuster tupiniquim arrebentou e foi eleita a melhor franqueada da rede no mundo. A loja do Itaim, pioneira, é líder mundial de faturamento.
Nada mau para uma empresa que começou a decolar em setembro de 94 sob a batuta do executivo Luís Mário Bilenky, 39, ex-Fotoptica e ex-McDonald's. Contratado pela holding Brasil Warrant, que cuida dos negócios não-financeiros do Unibanco, Bilenky assumiu a Blockbuster com o compromisso de abrir a primeira loja em março de 95.
Foi o que aconteceu. Hoje, 13 lojas depois, ele se diz satisfeito. "Fizemos muito para uma companhia com menos de um ano de vida." A meta para 96 é inaugurar mais 27 lojas, não só em São Paulo. "Queremos nos expandir no mercado nacional."
Os planos para o futuro também são ambiciosos, bem ao gosto da Blockbuster, palavra que, em inglês, significa arrasa-quarteirão. "Nosso objetivo é chegar ao ano 2.000 com 170 lojas. Ou 250 em sete anos."
Potencial para isso a empresa tem. Cada loja exige investimento de US$ 1 milhão. A área média de cada uma é de 500 m2 e o acervo conta com 5.000 títulos e 12.000 cópias.
Desde que entrou no mercado paulista, as 3.500 locadoras da cidade tremeram. Principalmente a Hobby Vídeo, maior rede de São Paulo, com 24 lojas. A concorrência gerou guerra de preços e fez com que as locadoras se mexessem. Para Bilenky, a Blockbuster só está ocupando espaço. "Nossa chegada equivale ao que os fast food fizeram com as lanchonetes quando se instalaram no país."
Algumas inovações introduzidas pela empresa já estão fazendo escola. A diária, por exemplo, pode variar de 48 horas a 62 horas. Isso porque o prazo de devolução é sempre "depois de amanhã à meia-noite". Se você pegar um filme às 10h de quinta-feira, poderá devolvê-lo até a 0h de sábado, o que dá 62 horas. O preço é de R$ 4,85. Já a diária adicional custa ao atrasadinho R$ 3,35 e não uma diária inteira. Outra novidade é o "drop quick", uma caixa de devolução que funciona 24 horas.
Mas quem é o homem responsável pela façanha Blockbuster no Brasil? Formado em administração de empresas pela Faap, Bilenky começou sua carreira na Fotoptica, onde chegou a superintendente. Migrou depois para o McDonald's, na época em que a rede começou a se instalar no Brasil. Em 92, foi morar na Flórida (sudeste dos EUA) para cuidar do McDonald's na América Latina. Até ser cooptado pelo Unibanco para tocar a Blockbuster no Brasil.
Casado com uma psicóloga, pai de trigêmeos (dois meninos e uma menina de 10 anos) e de um garoto de 8 anos, Bilenky não era um cinéfilo convicto ao assumir o negócio. Mas aprendeu a superar mais um desafio. Para isso, trabalha de 12 a 14 horas diárias. Não por ser centralizador. "Delego muito, mas quero estar sempre perto do negócio".
Diz que tem três funções na empresa: bússola, facilitador e chefe de torcida. "Dou a direção a seguir, encontro as soluções adequadas aos problemas e torço muito para que tudo dê certo", explica.
Mercado em extinção
Quando perguntado se está gerindo um negócio em via de extinção, Bilenky rebate com uma explicação que começa -e acaba- em Hollywood. "Depois de lançado nos cinemas, um filme vai para as videolocadoras e, mais tarde, para a TV a cabo", filosofa. "São muito poucos os filmes que se pagam na bilheteria, dois em cada dez. O restante fatura em vídeo, que acaba sendo o responsável por metade da receita de Hollywood."
Sobre o "video on demand", que permitirá ao usuário selecionar em casa o filme que quiser ver na hora que lhe convier, Bilenky faz algumas restrições. Para ele, as questões tecnológicas como compactação e transmissão ainda não estão resolvidas. "Outro problema é o custo de equipar as casas com fibra ótica."
É lógico que no meio de tudo isso ainda tem o público. Como ele reagirá? "As pessoas gostam de ir à locadora, de manusear a fita." Segundo Bilenky, a previsão é de que o "video on demand" esteja chegando aos Estados Unidos dentro de oito anos. E decreta: "Há espaço para todo mundo. Há oito anos, disseram que o marketing direto acabaria com o varejo, o que não aconteceu."
Mas, se uma mudança se impuser, Bilenky não tem dúvidas. "Entramos no mercado de entretenimento e não apenas no de locação de fitas. Se tivermos que vender CD-ROM ou videolaser no futuro, vamos fazer isso." E que ninguém duvide.

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