São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
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Walter Avancini aposta na 'soap-opera'

ANGÉLICA BANHARA
EDITORA DO TV FOLHA

O diretor do Núcleo de Dramaturgia da Rede Manchete, Walter Avancini, fala de seus planos de discutir o jogo de poder em uma novela ambientada em São Paulo, para suceder "Tocaia Grande".
Em entrevista exclusiva à Folha, Avancini aponta a "soap-opera" como a grande saída para firmar a dramaturgia na emissora.
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Folha - Quais os próximos planos da Manchete para a área de dramaturgia?
Walter Avancini - A idéia é firmar o horário de "Tocaia Grande" para as novelas. Para a próxima, estou preocupado em sair do processo de época, que foi muito importante para a Manchete. Mas isso acabou se estendendo para outras emissoras, como o SBT, que praticamente só faz época.
Folha - E qual é a idéia para a sucessora de "Tocaia"?
Avancini - Tenho vontade de fazer algo que se relacione com São Paulo -moderno e atual. Acho importante para a emissora tentar ganhar a audiência em São Paulo.
Mas teremos várias reuniões para discutir, como marketing, o que é mais importante. Gostaria de realizar alguma coisa do estilo de "Avenida Paulista" (minissérie dirigida por Avancini na Globo, em 82), que fale do mundo do poder.
Folha - É aí que entram seus planos em relação à Bruna Lombardi?
Avancini - Não há nada definido. Em princípio, tinha pensado na Bruna para interpretar Gringa, em "Tocaia Grande". Falei com ela em Los Angeles, mas ela tem compromissos durante este mês. Gostaria de conversar com Bruna sobre a próxima novela, se ela estiver livre.
Folha - Você pensa em voltar a dirigir minisséries ou especiais?
Avancini - Penso em tudo isso, mas não posso fazer nada agora. A médio prazo, gostaria de fazer "soap-operas", essas novelas mais econômicas. Para isso, temos condições excepcionais de espaço e de carpintaria na Manchete.
Essas novelas mais econômicas serviriam também de laboratório para a formação de novos autores, roteiristas, diretores e atores jovens.
Folha - Como você define "soap-opera"?
Avancini - A definição mais comum, dos norte-americanos, é a de uma novela infindável, interminável. Eles realizam novelas mais econômicas, com núcleos menores de personagens, baixo investimento e sem data para acabar.
Nos Estados Unidos, é comum ver a atriz que fazia a jovenzinha, a filha do casal, interpretando a avó 15 anos depois. Lá, a "soap-opera" tem essa longevidade, de 15 anos no ar com o mesmo núcleo de personagens que vão envelhecendo, e novas gerações vão surgindo nas histórias. É um sistema que, lá, funciona muito bem.
Eu acho que a Globo não faz exatamente isso com "Malhação". Não sei se ela pretende isso. Mas não tem a cara da Globo, a verdade é essa.
Na "soap-opera" tradicional, o melodrama toma conta. Ela mostra as famílias com seus problemas, o tempo passando e os personagens envelhecendo realisticamente. Acho isso mais possível e viável numa emissora como a Manchete, por exemplo.
Folha - Qual o melhor horário para a "soap-opera"?
Avancini - Poderia ir ao ar nas duas faixas: de manhã e à tarde. Ou então, duas à tarde e duas de manhã. Acho importante para outras emissoras, que não a Globo, porque isso significa a possibilidade de ter um produto que feche determinados horários com pouco investimento. Mas a gente teria que preparar nossos roteiristas para isso.
Folha - Mas uma "soap-opera" custaria mais que os filmes B usados por várias emissoras para preencher horário com baixo custo, não?
Avancini - O investimento pode chegar muito perto. Com a vantagem de a "soap-opera" ser um produto de propriedade da emissora e, daqui há dois ou três anos, poderá ir ao ar de novo. Cria-se um acervo para a casa.
Em 80, cheguei a fazer cálculos para a Bandeirantes de quanto custaria regravar novelas antigas de Ivani Ribeiro, como "A Deusa Vencida" e "Meu Pé de Laranja Lima". Foram novelas que eu fiz com custo muito baixo.
Era quase tudo estúdio, porque não havia condições de fazer externas, e tinham, no máximo, 18 personagens. Na época, consegui fazer pelo custo de uma reprise de filme que eles tinham no horário.
Folha - Uma "soap-opera" custaria quanto a menos que uma novela?
Avancini - Um terço do custo. Acho que menos, até. Cada capítulo de uma novela no horário nobre deve custar cerca de R$ 35 mil -levando em conta que a novela tenha, pelo menos, 150 capítulos. Em uma "soap-opera", se gasta R$ 8.000 por capítulo -se ela tiver pelo menos 200 episódios. Tendo em conta que ela pode ser mantida no ar por dois anos, com certeza o custo pode ser até mais baixo.
Folha - O telespectador brasileiro não é igual ao americano. Como segurar um público acostumado à dinâmica das novelas?
Avancini - A acho que o público que pode ver novela à tarde ou de manhã é muito específico. São as pessoas de mais idade, que não saem de casa ou só têm trabalhos domésticos. Se você tiver uma linha de melodrama interessante, elas vão assistir, eu não tenho a menor dúvida. São as pessoas que assistem a filmes antigos, filmes de terceira linha, nesse horário.
Folha - E o público adolescente?
Avancini - Vai continuar na Globo. Esse público, é provável que a "soap-opera" não conquiste.

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