São Paulo, segunda-feira, 8 de janeiro de 1996
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Cantora chega à Argentina 'sob protesto'

DENISE CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

Os argentinos ainda não se acostumaram com a idéia. Torcem o nariz, mas não podem evitar. Madonna desembarca no país no próximo dia 19 para interpretar o papel de um dos maiores ídolos locais -Eva Perón (1919-1952).
A escolha de Madonna despertou mais uma polêmica sobre o filme "Evita", que começa a ser rodado em Buenos Aires em 29 de janeiro pelo diretor inglês Allan Parker, 51, o mesmo de "O Expresso da Meia-noite".
Na última semana, Parker escolheu em Buenos Aires os locais públicos de gravação -o bairro operário de La Boca, o Mercado de Liniers, o Jockey Club de San Isidro e outros.
Parte da equipe de produção -justamente a que cuidará do contato com a imprensa e da segurança do elenco do assédio de fãs e jornalistas- chegará apenas no dia 13.
Com Madonna, desembarcam no país os atores Jonathan Price, que atuará como o presidente Juan Domingo Perón (1895-1974), e Antonio Banderas, que viverá Che, um personagem baseado no revolucionário argentino Che Guevara, morto em 1967.
A produção de Parker é amplamente rejeitada no país. Madonna colabora, com sua ousadia e imagem escandalosa consideradas prejudiciais à figura de Evita.
Algumas vozes, isoladas, defendem a escolha. "Madonna tem a vitalidade e a força na voz que as outras atrizes não demonstram para este papel", afirmou à Folha o escritor Tomás Eloy Martínez.
"Essa era uma das características marcantes de Evita", acrescenta o autor dos livros "O Romance de Perón" e "Santa Evita".
Martínez, entretanto, completa o coro dos que resistem ao projeto de Parker por outra razão -o roteiro é baseado na ópera-rock "Evita", de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice.
Essa obra é repudiada por toda a sorte de intelectuais, artistas, biógrafos, historiadores e políticos argentinos.
Essa versão mostra uma Eva adolescente e prostituída. A moça trabalha como atriz de rádio e cinema, tem uma ambição descomunal e se casa com o coronel Perón, que torna presidente de 1946 a 1955 e, depois, de 1973 a 1974.
A ópera-rock prossegue com a transformação de Evita em uma política astuta, protetora dos trabalhadores descamisados e ainda mais ambiciosa -até sua morte precoce, aos 33 anos, em 1952.
Logo que foi divulgada a produção norte-americana, três projetos surgiram na Argentina para se confrontar com o de Parker.
E pelo menos duas atrizes do país se lançaram como Evitas. Andrea del Boca, 30, uma espécie de "namoradinha da Argentina" que atua em novelas melosas, conseguiu o apoio pessoal do presidente Carlos Menem para sua produção e caracterização como a heroína.
A Hebe Camargo local, Susana Giménez, 51, também disputa o mesmo papel em uma produção para a televisão argentina.
Além disso, o diretor Juan Carlos Desanzo, 56, espera a resposta de duas estrelas de Hollywood para a produção considerada mais fiel à história de Eva -nada menos que Merryl Streep e Michelle Pfeiffer.

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