São Paulo, terça-feira, 9 de janeiro de 1996 |
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A saúde no Brasil
ELEUSES VIEIRA DE PAIVA Estamos no fim do século 20, na era da comunicação sem limites e dos diagnósticos de alta precisão. No entanto, a classe médica vive um clima desalentador comparado ao final do século passado.A história da medicina mostra que no fim do século 19 vivia-se um clima de grande expectativa frente à descoberta do raio X, do desenvolvimento da bateriologia etc. Acreditava-se no controle de doenças que afligiam todos os povos. O transcorrer do século demonstrou ser possível, pois as novas descobertas e a incorporação de tecnologia de ponta fizeram da medicina uma das ciências mais avançadas. Mas na formação dos recursos humanos o acúmulo do conhecimento científico foi sobrepondo-se aos da área humana. A medicina, ciência humana por excelência, passou a ser desempenhada de forma mais "científica". O conflito está colocado na ordem do dia para a comunidade médica mundial. No Brasil, entretanto, ainda outras contradições terão que ser resolvidas junto à sociedade. Assistimos em nosso meio à expansão dos serviços de saúde, mas que não foram acompanhadas de um real acesso aos avanços da área. A medicina de qualidade tem sido, cada vez mais, uma realidade para poucos. Temos visto o recrudescimento de doenças endêmicas já controladas, atendimentos realizados em locais precários e óbitos por falta de assistência. A população vê-se diante de serviços públicos inoperantes, que transformaram-se em centros de sucata e focos de infecção hospitalar, enquanto no setor privado predominam os contratos draconianos, onde a doença não tem cobertura. Os médicos, por sua vez, viram sua profissão ser intermediada por terceiros e absorvida pela burocracia. A relação médico-paciente ficou mais difícil diante da ineficiência do setor público, aliada aos convênios, guias e glosas das empresas privadas. Formou-se uma quantidade excessiva de mão-de-obra médica sem que isso representasse melhoria no atendimento e sim maior favorecimento às empresas de plano de saúde, que passou a ser um dos setores mais lucrativos. Os sucessivos governos não têm demonstrado compromisso com o SUS. Diminuem progressivamente o orçamento da saúde, mantêm sistematicamente baixos os valores dos procedimentos do SUS e salários aviltantes. É preciso um esforço conjunto para mudar essa relação que aflige profissionais e população. Não é possível, com tantos avanços, contarmos com um sistema de saúde que só tem aumentado as injustiças e diferenças sociais. Texto Anterior: Arquibancada desaba e faz 80 feridos em SC Próximo Texto: Refém fica 80 horas sem comer nem beber Índice |
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