São Paulo, terça-feira, 9 de janeiro de 1996
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Esse novo Corinthians cheira à crise

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Escrevo para depois, com sorte, ser ridicularizado. Gozado. Triturado por gracinhas -algumas sempre sem graça alguma. Feito de gato e sapato.
Quero queimar a língua. Apostar no fracasso retumbante para, depois, humildemente, comemorar, eufórico, mais um título do timão. Quero perder o rebolado, mas não as estribeiras. Não sou um animal -no sentido atual da palavra.
Mas esse Corinthians que estão montando para um ano tão importante, com Libertadores e, quem sabe, até um "Projeto Tóquio" (não exclusivo para jogadores do meio para o fim de carreira), cheira a crise.
Acho louvável que se dê a última chance, a última oportunidade. É cristão. É bonito, simpático, humano.
Até que se pague muito por isso. Afinal, o dinheiro não é meu. Mas time de futebol não é uma entidade de benemerência. Não foi criado para fazer caridade.
Você contrata o sujeito, mas não faz muita festa. Paga um salário menor (só R$ 30 mil ou R$ 40 mil por mês, uma verdadeira miséria), prometendo completá-lo com patrocinadores, que ainda farão uma campanha para melhorar a sua (dele) imagem. Como se fosse um problema exclusivo de imagem...
A questão não é se se é ou não um mau menino, que batia porque não conseguia se controlar. Como nem tudo se resume ao fato de que, se joga, então está ótimo.
Gosto do jogador irreverente. Saudades do Viola, que chafurdava na lama para comemorar um gol, que inventava coreografias e tinha consciência do espetáculo.
Mas Edmundo não é irreverente, é um "animal". Entre as desculpas públicas, sempre me chega a cabeça a frase: "não me deixem só!". Já deixamos o outro.
Dizem que é desagregador. A criança, no fundo uma boa pessoa, que, na escolinha, se divertia dizimando os castelos de lego montados pelos colegas.
Sempre havia alguém, batendo nas costas, falando do seu talento e que águas passadas não movem moinhos. Uma besteira. Moinho não tem memória; pessoas, sim, para o bem ou para o mal.
Pior para o Eduardo Amorim. Ou para os corintianos?
Vai ter guarda-costas. Alguns palmeirenses, dizem, querem mostrar com quantos paus se faz uma canoa.
É que o ídolo "animal" deixou órfãos "animaizinhos" -que, espero, estejam em extinção em todas as torcidas.
Vai ter psicólogo. Quem sabe até uma assistente social.
Mas vamos lá. Como a situação é limite, até com convite para se retirar do Rio, dita cidade (também é uma imagem) mais violenta do país, dá que o sujeito acaba usando seu extinto "animal" para arrebentar (no bom sentido) em campo.
Até porque, é de conhecimento público (portanto deve ser dele também), se a canoa furar, não tenham dúvidas, mesmo que seja inocente, a galera vai achar um culpado. Depois, é claro, de tentar preservar o investimento.

Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna de Matinas Suzuki Jr.

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