São Paulo, terça-feira, 9 de janeiro de 1996
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Margot habita terra do desejo

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

O reino do mais puro espetáculo. Assim é "Rainha Margot", filme do francês Patrice Chéreau (HBO, 18h) produzido em 1994.
Baseado em um romance de Alexandre Dumas, o filme tenta dar conta de um dos mais sangrentos episódios da história da França, quando por problemas políticos, disfarçados em religiosos, um massacre de protestantes por católicos aconteceu sob o reinado de Catarina de Medecis.
Mas nas mãos de Chéreau, a história se transforma em cenário para o nascimento da tragédia segundo um espírito romântico que permeia todo o filme.
Seus personagens são regidos pela paixão que é convertida automaticamente em sexualidade, parecendo que vivem uma certa "febre de desejo".
Uma sexualidade que se transforma no decorrer do filme em um sintoma de desajuste mental, como se tudo se passasse no campo da histeria.
Há então um cruzamento entre o prazer e o sangue, tão marcado nas cores do filme.
E é nesse momento que "Rainha Margot" revela a herança que seu diretor possui de seus trabalhos anteriores no teatro e, o que se nota mais, na ópera.
Sua sinfonia dessa vez é a própria história de seu país, e suas árias são montadas na doença que vê nos homens e no mundo.
Um filme que foge a idéia do que se acostumou a ser reconhecido como cinema francês.
"Rainha Margot" não é um filme cartesiano, onde se trabalha e se discute uma idéia ou tese.
Mas antes, o filme ocupa um outro espaço: o do exagero em oposição à ordem.
Talvez o último grande épico do cinema francês.

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