São Paulo, terça-feira, 9 de janeiro de 1996
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Cineastas brasileiros apostam no gênero

MÔNICA MAIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os documentaristas brasileiros inciaram as produções de 1996. Quatro diretores já começaram filmagens e pesquisas para novos roteiros. O cinema e o próprio documentário nacional são focalizados em dois filmes.
Com orçamento de R$ 250 mil, Aurelio Michiles roda, na Amazônia, um filme sobre Silvino Santos (1886-1970), cineasta português que estudou com os irmãos Lumière e foi pioneiro do cinema da região. "Santos deixou o maior testamento visual da Amazônia. Realizou nove longas e 57 curtas e médias-metragens", diz Michiles.
O diretor Fernando Camargos mostra a vida do documentarista sueco Arne Sucksdors. Sucksdors, um historiador do cinema, deu cursos para a geração de Cacá Diegues e Arnaldo Jabor. Morou 25 anos no Mato Grosso. O documentário é co-produzido pela RioFilmes.
A vida de Luís Carlos Prestes também vira documentário, com a assinatura de Toni Venturi. É uma produção de uma hora para televisão. O diretor Ricardo Dias, autor de "No Rio das Amazonas", parte para uma superprodução sobre fé no Brasil.
O último filme de Dias,"No Rio das Amazonas', ganhou prêmio APCA como o melhor filme de 95. Em novembro Dias começa rodar "Fé". Mostra os principais rituais religiosos do país focalizando os devotos. O documentarista também pretende acompanhar a rotina de um fiel de cada uma das religiões mais representativas. Os custos da produção são cobertos com verbas da Fundação Rockfeller e de uma bolsa de pesquisa da Função Vitae.
"A pesquisa custou US$ 30 mil. O filme exige US$ 500 mil. A dificuldade é o custo com transporte. Comecei a pensar quando terminei 'Rio das Amazonas', um filme com orçamento de US$ 250, que saiu por US$ 180 mil. E uma idéia anterior ao episódio da Igreja Universal com a imagem da santa. Os evangélicos são um capítulo", afirma Dias.
"Documentário tem grandes vantagens sobre o cinema de ficção. É mais fácil, mais barato e exige menos equipamento. Dificilmente um documentário fica inacabado, como acontece com muitos filmes nacionais. Além disso, envelhece muito menos que o filme de ficção. Muitos desses filmes hoje nas televisões a cabo são de 89. Sem dúvida, TV paga é uma grande abertura", diz Dias.
O campeão dos documentaristas nacionais, Silvio Tendler, tem o mesmo entusiasmo e os 600 mil espectadores de "Jango" e "JK" como melhor argumento. Ele embarca na próxima semana para o NATPE/96 (National Association of Television Program Executives), uma feira de programação de TV, em Las Vegas. Tendler vai articular a circulação de documentários brasileiros no circuito das televisões internacionais.
"O mercado, mesmo em menor escala que o cinema, sempre existiu. Vejo com total positividade a abertura das TVs pagas para nosso trabalho. Dirijo operações e programação da TV Brasília. Temos uma produtora dentro da TV Brasília com o intuito de ser uma provedora de documentários para televisões do mundo inteiro", afirma Tendler.
Para ele, o encanto da produção de um documentário é a descoberta permanente da realidade. Ele diz que o resultado de uma entrevista no meio de uma produção pode derrubar ou modificar todo um projeto.
"Sempre fui apaixonado. Documentário é uma linguagem, e não um trampolim para outro gênero. O público brasileiro não qualifica documentário como um processo criativo. Mas o bom documentário é sempre um olhar autoral. Um filme de Dziga Vertov é diferente de um de Joris Ivens", diz Tendler.

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