São Paulo, terça-feira, 9 de janeiro de 1996
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A tartaruga e o vendaval

Segundo dados inquietantes obtidos por esta Folha junto ao governo federal, para superar o elevado déficit social no Brasil seria necessário investir aproximadamente R$ 80 bilhões apenas em habitação, saneamento básico e coleta de lixo -três setores com grandes carências que atingem a qualidade de vida dos brasileiros.
Sabe-se que há hoje um déficit de 3,3 milhões de novas moradias, outras 4,2 milhões não dispõem de água canalizada e apenas 63% dos domicílios brasileiros contavam com coleta de lixo em 91.
As verbas federais limitam-se aos parcos recursos oriundos do FGTS e do Tesouro Nacional para obras nesses setores. Estão previstos para 96, apenas da parte da União, investimentos de R$ 1,9 bilhão para habitação e R$ 1,5 bilhão para saneamento, cifras que não fazem frente às responsabilidades federais nessas áreas.
Em tese, o poder público poderia buscar meios alternativos de investimento. Fala-se, como sempre, em captação de recursos externos, combate a desperdícios e participação da iniciativa privada. Além dos esforços da União, lembre-se que é desejável uma maior atuação de Estados e municípios. São, porém, alternativas de lenta e difícil negociação política e, se bem-sucedidas, com resultados a longo prazo.
Tudo parece indicar que, por enquanto, na luta contra a dívida social, o anêmico Estado brasileiro continuará fazendo o papel da tartaruga que persegue a migalha de pão arrastada pelo vendaval.

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