São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 1996
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Entidades tentam anular decreto de FHC

EMANUEL NERI; MYRIAN VIOLETA
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Nilmário Miranda (PT-MG), classificou de "iniciativa desastrada" o decreto do governo que permite alterações nas reservas indígenas do país.
"O presidente Fernando Henrique sepultou qualquer esperança que os povos indígenas ainda pudessem ter em seu governo", diz nota divulgada por Nilmário. O deputado Gilney Viana (PT-MT) também assina o comunicado.
O Cimi (Conselho Indigenista Missionário), ligado à Igreja Católica, estuda mecanismos para contestar o judicialmente o decreto. A Comissão Pró-Índio de São Paulo diz que o decreto é inconstitucional e também deve entrar com uma ação de inconstitucionalidade.
O decreto, assinado anteontem por FHC, dá a proprietários de terra, governos estaduais e municipais o direito de contestar desapropriações para demarcações indígenas: 57% do território indígena pode ser ser revisto.
A inconstitucionalidade do decreto também é questionada por Nilmário Miranda. "Assusta-nos que o governo pretenda revitalizar, por decreto, títulos que a Constituição considera 'nulos e extintos', pois foram produzidos quando a terra era dos índios há séculos".
O deputado chama de "grave novidade" a possibilidade de alteração de terras que já tiveram sua demarcação homologada por decreto presidencial. Para ele, isso faz com que sejam atingidas 344 das 554 áreas indígenas do país.
O decreto altera legislação anterior que o governo considerava inconstitucional por não permitir o direito de defesa a pessoas que se sentissem prejudicadas por demarcações dos territórios indígenas.
Nilmário Miranda diz que a legislação anterior, o decreto 22/91, surgiu após "doloroso roteiro de perseguição e mortes". Segundo ele, a lei anterior "logrou abafar os conflitos, recriando condições para uma vida em paz".
"Com sua iniciativa desastrada, o governo FHC está estimulando a reabertura das disputas pela terra e o recrudescimento das invasões", diz a nota. "Fazendeiros, grileiros e madeireiros vão retomar as agressões aos índios".
O deputado coloca sob suspeição a atuação do ministro da Justiça, Nelson Jobim, na elaboração do novo decreto. Afirma que Jobim atuou como advogado "contratado" pelo governo do Pará em uma ação contra o decreto 22.
Lídia Luz, da Comissão Pró-Índio, diz que o decreto vai permitir indenizações de terras demarcadas para índios. Segundo ela, a Constituição permite apenas a indenização de benfeitorias'.
Nelson Jobim afirmou que inconstitucional era o decreto anterior e negou ter sido advogado do governo do Pará: disse que só fez um parecer alegando a inconstitucionalidade da legislação anterior.

Colaborou MYRIAN VIOLETA, da Agência Folha, em Campo Grande

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