São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 1996
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Turista intencional

LUÍS NASSIF

A decisão do presidente da República de prosseguir em seu périplo internacional não é politicamente recomendada. Há uma flagrante inversão de prioridades.
As sucessivas viagens no final do ano criaram dois problemas para o presidente. Junto à opinião pública, passaram a idéia de fuga dos compromissos cotidianos. Junto ao próprio FHC, significaram alheamento do processo político, levando-o a uma sucessão de declarações desastradas, típicas de quem não está concentrado no tema.
Mudanças de ano têm o condão de renovar expectativas. Esperava-se que o descanso tivesse permitido uma reavaliação da situação e convencido o presidente a dedicar-se inteiramente a administrar as questões internas. Há um conjunto de reformas em andamento exigindo coordenação política e problemas de monta na administração da política econômica exigindo decisão.
Em lugar de dar prioridade aos problemas internos, volta-se à roda de viagens. Uma semana na Índia, para permitir ao país obter assento no Conselho de Segurança da ONU. Cinco dias em Petrópolis, para permitir ao presidente curtir as pompas do cargo. De útil, nada.
O presidente tem inapetência para a administração diária, natural em intelectuais. Pode-se resolver a questão forçando a própria natureza ou definindo um modelo de decisão descentralizado.
Não se faz uma coisa nem outra. O presidente simplesmente matou toda e qualquer discussão interna, pelo seu próprio alheamento das questões do dia-a-dia. As reuniões em conjunto de seu ministério não levam a nada, porque as conclusões não se transformam em decisões efetivas.
A porta de entrada da história não está em Bombaim. Está em Brasília.
Privatização gaúcha
O secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul, César Busatto, entra em contato com a coluna para esclarecer alguns pontos do processo de privatização do Estado, que não ficaram muito claros em coluna anterior.
A parte inicial do programa é uma operação de crédito do governo do Rio Grande com o BNDES, no valor de US$ 150 milhões (e não US$ 60 milhões, como a coluna erroneamente colocou), a título de antecipação de receita de privatização.
Para tanto, constituiu-se uma companhia estadual -a Caixa de Administração da Dívida Pública-, que emitiu debêntures lastreadas em ações da Companhia Riograndense de Telefonia (CRT).
Será colocado à venda, inicialmente, cerca de 34% do capital para uma operadora privada. O BNDES estimou o valor em US$ 300 milhões. O governo gaúcho julga que chega a US$ 500 milhões.
Se vender por US$ 300 milhões, US$ 150 milhões serão utilizados para pagar o BNDES. Do excedente, o BNDES ficará com 30% e o Estado com 70%, até o teto de US$ 300 milhões. Ou seja, vendendo por US$ 300 milhões ou mais, o BNDES ficaria com US$ 60 milhões de lucro.

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