São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 1996
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Mitterrand sabia ter câncer desde 81

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

François Mitterrand sabia do câncer da próstata que o matou desde o início do seu primeiro mandato presidencial, em 1981. Mitterrand foi presidente por 14 anos -entre 1981 e 1995. Morreu em Paris, na manhã de anteontem.
O presidente francês, no entanto, fizera questão de ser o primeiro chefe de Estado da França a tornar públicos, semestralmente, boletins sobre seu estado de saúde. Os boletins não mencionaram a doença até 1992.
A revelação é do jornal parisiense "Le Monde", o mais prestigioso da França. O "Monde" conta que a doença foi controlada com tratamentos hormonais durante 11 anos, quando então foi constatada a necessidade da cirurgia.
O jornal detalha atritos do presidente com seus vários médicos, que preferiam esconder a doença, e como Mitterrand recorreu a um homeopata, a partir de 1994.
A editora Odille Jacob anunciou ontem que vai publicar um dos dois livros que Mitterrand preparava nos seus últimos meses de vida, com a ajuda de outros escritores.
Ainda sem título, a obra vai tratar dos anos da vida de Mitterrand sobre os quais o presidente jamais falou em público: o período de sua primeira juventude, imediatamente anterior à guerra, e os anos em que trabalhou para o regime de Vichy.
Vichy era a capital administrativa da França ocupada pelos nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial. Mitterrand trabalhava no setor de prisioneiros de guerra.
Chegou a ser condecorado com uma medalha de mérito de Vichy, em 1942. Depois, Mitterrand aderiu à Resistência antinazista.
Em 1994, o livro "Une Jeunesse Française" ("Uma Juventude Francesa"), de Pierre Péan, contava a história dos anos esquecidos de Mitterrand e provava que o presidente francês manteve contatos durante toda sua vida com membros do regime colaboracionista, mesmo com aqueles responsáveis pela perseguição e prisão de judeus na França.
Mitterrand será enterrado amanhã, em Jarnac, a cidade em que nasceu, no jazigo de sua família. O corpo será levado à cidade em avião militar. O caixão será conduzido por militares.
Danielle Mitterrand, mulher do presidente, teria dito que esse tipo de homenagens não eram desejadas por seu marido. A missa e o enterro em Jarnac serão reservados aos amigos íntimos e à família.
Em Paris, na praça da Bastilha, haverá uma homenagem "silenciosa", sem discursos. Na Catedral de Notre Dame, chefes de Estado e o presidente Jacques Chirac assistirão a uma missa de réquiem.

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